Longevidade e envelhecimento populacional: dois conceitos distintos, porém correlacionados
Por Marina Vendramini, analista atuarial da Mirador
A busca pela imortalidade é um desejo da sociedade desde os primórdios. Mesmo povos antes da Era Cristã já apresentavam resquícios de cobiça pela vida eterna. No Egito antigo, 2.500 anos A.C., havia um Deus da Ressurreição conhecido como Osíris, que foi um dos deuses mais populares do Antigo Egito. No ano 259 A.C., na China, o imperador Qin Shi Huang, denominado o primeiro imperador chinês, era obcecado pela imortalidade e ironicamente morreu em uma de suas expedições pela busca do elixir da vida eterna.
Porém, como a vida eterna não faz parte da realidade dos seres mortais o que resta é apenas almejar uma velhice tranquila, dispondo de um bom amparo financeiro e uma ótima qualidade de vida, já que na terceira idade a saúde se torna algo mais delicado. Os primeiros conflitos internos que um idoso vivencia com os sintomas iniciais da velhice é a dificuldade na adaptação às mudanças físicas e sociais que surgem em decorrência desse processo.
Essas mudanças físicas são relacionadas, principalmente, à saúde do idoso. Com o envelhecimento as dores tornam-se mais constantes, a vulnerabilidade a doenças aumenta, tornando a dependência por remédios uma rotina; dificuldades em se movimentar/caminhar, causada pelo enfraquecimento dos músculos, diminuição da visão, enfim, conforme a velhice vai se aproximando os conflitos com o próprio corpo e a luta incessante contra doenças só tende a aumentar. Já as mudanças sociais são relacionadas com os embates ocasionados pela interação dos idosos com uma sociedade pouco tolerante ao processo de envelhecimento.
No entanto, nas últimas décadas a expectativa de vida aumentou consideravelmente e, felizmente, o processo de envelhecimento está começando cada vez mais tarde para uma grande parte da população. Desta forma, deparamo-nos atualmente com o conceito de envelhecimento populacional, ou seja, o aumento proporcional de pessoas em idade avançada e a diminuição da proporção de jovens nesta mesma população. Mas qual o principal motivo para este crescimento? Antigamente se atribuía este fenômeno à diminuição da mortalidade, ou seja, envelhecimento pela parte superior da pirâmide, porém é importante destacar que a mortalidade afeta todas as faixas etárias, e não apenas os grupos etários mais idosos. Assim, em uma primeira etapa, a mortalidade não produz envelhecimento, mas sim rejuvenescimento, pois reduz principalmente a mortalidade infantil.
Alexandre Kalache¹ esclarece que os fatores determinantes do envelhecimento populacional, em nível da população de um país, são ditados principalmente pelo comportamento de redução das suas taxas de fertilidade e, de modo menos importante, de suas taxas de mortalidade. Assim, o principal motivo para o aumento do envelhecimento populacional é devido ao constante decréscimo da fecundidade desde a década de 60. Este fenômeno é denominado envelhecimento pela base ou transição da estrutura etária.
Desta forma, o envelhecimento populacional é um conceito que mensura a proporção de pessoas idosas na população, e a longevidade, conforme o dicionário Houaiss, significa duração de uma vida mais longa que o comum. Embora esses conceitos possuam significados distintos, eles são correlacionados, ou seja, quanto mais longeva, mais envelhecida é a pessoa. Assim, é evidente que a longevidade contribui para o envelhecimento, porém, como visto no parágrafo anterior, não é crucial para a senescência da população.
¹ médico especialista em envelhecimento, foi o primeiro Presidente do International Longevity Centre Brazil, é Embaixador Global do HelpAge International para estudos do envelhecimento.