Custo da dívida espanhola é recorde
O custo dos empréstimos da Espanha subiu e voltou a atingir nível recorde ontem, após uma agência avaliadora de risco ter rebaixado as dívidas do país, em meio aos crescentes temores de que o pacote de resgate aos bancos domésticos possa não ser suficiente para evitar um caos econômico.
As taxas (ou rendimentos) dos bônus referenciais de dez anos da Espanha alcançaram ontem nível recorde, batendo em 7% - maior patamar desde a adoção do euro pelo país e que muitos analistas consideram insustentável.
A agência de rating Moody"s rebaixou a classificação dos títulos de dívidas soberanos da Espanha em três notas, de "A3" para "Baa3", na quarta-feira à noite. A Moody"s atribuiu a decisão à oferta de até € 100 bilhões pelos líderes da região do euro para a Espanha fortalecer seu fragilizado setor bancário, que acabará aumentando consideravelmente os encargos do país com dívidas.
Como consequência do rebaixamento, menos investidores vão comprar títulos espanhóis, porque determinadas instituições, como os fundos de PENSÃO, são obrigadas a evitar ativos com classificações tão baixas. A Espanha não vai colapsar de imediato por causa do nível das taxas, mas atingir esse patamar traria dificuldades para o leilão de títulos marcado para terça.
"O relógio está correndo", disse o analista Michael Hewson, da CMC Markets. O resgate dos bancos tem como propósito recapitalizar o sistema bancário espanhol e suavizar a crise das dívidas europeias. Em vez disso, os investidores parecem ter ficado preocupados com o fato de o governo estar assumindo dívidas extras, o que pressionou o rendimento dos bônus espanhóis para cima - sinal do nervosismo do mercado - durante toda a semana.
O ministro da Economia da Espanha, Luis de Guindos, disse que o país tem "um mapa de estradas" para resolver a crise e pediu tranquilidade. Já o ministro das Relações Exteriores, José Manuel García-Margallo, comparou a união monetária a estar em um navio. "Se o Titanic afundar, leva todos juntos, mesmo os que estão na primeira classe", afirmou.
A Moody"s destacou que a capacidade de o governo espanhol para levantar dinheiro nos mercados internacionais está sendo limitada pelos altos juros, uma situação que o levou a aceitar os recursos da região do euro para resgatar seus endividados bancos.
Alguns detalhes sobre como será o pacote de socorro começaram a emergir ontem. As autoridades europeias estudam liquidações - venda dos ativos de um banco - como parte do plano para fortalecer o setor bancário espanhol, segundo um porta-voz do comissário de concorrência da União Europeia (UE), Joaquín Almunia.
"A liquidação sempre é avaliada", disse o porta-voz Antoine Colombani. "Preferimos liquidar quando isso é mais barato para o contribuinte." A alternativa foi rechaçada em comunicado do Fundo de Reestruturação Ordenada Bancária (Frob), do governo espanhol.
O fundo informou "não ter planos para iniciar procedimentos de insolvência ou liquidar nenhuma instituição de crédito sob sua administração ou controle".
Como o acordo do fim de semana para salvar os bancos consiste em, primeiramente, emprestar o dinheiro para o governo da Espanha, há preocupações de que os contribuintes acabarão correndo o risco pelas más decisões dos bancos. Os investidores temem que o acordo eleve os níveis de endividamento e déficit da Espanha.
A Eurostat, agência de estatísticas da União Europeia, divulgou ontem que ainda é incerto quando o déficit do país aumentará, porque isso depende de como o governo emprestará o dinheiro aos bancos. Parte dessa decisão dependerá dos juros que serão cobrados dos bancos. Se forem baixos demais, a operação poderia ser considerada mais um "presente" do que um empréstimo, o que pesaria contra o déficit.
Colombani disse que de acordo com um dos planos em consideração, os juros mínimos seriam de 8,5%. A Eurostat não respondeu de imediato se tal taxa seria um patamar alto o suficiente para evitar que os empréstimos agravassem o déficit.
Um grupo de investidores iniciou procedimentos legais na Corte Nacional da Espanha para investigar se ex-diretores do Bankia agiram ilegalmente ao vender ações pouco tempo depois de a instituição pedir auxílio financeiro de € 19 bilhões. O advogado Juan Moreno Yagüe afirmou que abriu procedimentos em nome dos investidores para que um juiz investigue se os diretores "apresentaram contas falsas para assegurar que acionistas investissem em uma empresa que eles sabiam estar, na verdade, quebrada".
A resposta errática do governo espanhol à crise irritou os líderes da UE, segundo o principal jornal espanhol, "El País". O periódico informou que o primeiro-ministro Mariano Rajoy está sob fortes críticas em círculos da UE por ter apresentado o pacote como uma medida "leve" e uma vitória para a Espanha e o euro. A atitude provocou reclamações de outros países, como Portugal e Irlanda - que receberam pacotes austeros e tiveram de lidar com pesados controles fiscais impostos externamente -, para que recebessem tratamento similar.
Em discurso ao Parlamento alemão, em Berlim, ontem, a primeira-ministra do país, Angela Merkel, insistiu: "A Espanha está adotando as reformas adequadas. O primeiro-ministro espanhol está fazendo isso com grande coragem e grande
determinação", acrescentou. Merkel voltou a elogiar a decisão da Espanha de solicitar fundos europeus para recapitalizar seus bancos. "Quanto mais rápido a Espanha fizer a solicitação, melhor".
Fonte: Valor Econômico – 15/06/2012