Brasil tem elementos fortes para crescer, diz Mendonça de Barros
Juliana Garçon
Com a continuidade do aumento do poder de consumo da classe C - ainda que em menor escala que no período entre 2006 e 2010 -, o crescimento das exportações da cadeia de recursos naturais e expansão dos investimentos públicos na Copa do Mundo e Olimpíadas, o Brasil concentra elementos para alavancar o crescimento nos próximos anos, avalia o economista José Roberto Mendonça de Barros, secretário de política econômica da gestão FHC e um dos principais responsáveis pelo sucesso econômico da era tucana.
Por outro lado, o país precisa redobrar a atenção com travas como o garrote fiscal, ineficiência nos gastos públicos e falta de reformas, ponderou Mendonça de Barros, fundador da consultoria MB Associados e um dos poucos representantes da era tucana a contar com simpatia dos técnicos ligados à gestão PT.
Em palestra a empresários do setor de energia elétrica em São Paulo, ontem, o economista relembrou os desafios afigurados pela crise global e pelos problemas intrínsecos da economia brasileira e admitiu a parcela importante de responsabilidade do governo nos mecanismos de ganho de competitividade. Mas enfatizou a necessidade de busca de soluções e avanços pelo setor privado. "Fazer excursões a Brasília três vezes por semana não adianta."
Benefícios como os pacotes de desoneração temporários, diz, resolvem problemas de caixa imediatos, mas é essencial ir além, com bons projetos de longo prazo."
Para ilustrar as possibilidade de o país virar o jogo, Mendonça de Barros destacou que a China está perdendo competitividade para os vizinhos e para o México em manufaturas leves.
O país latino-americano agiu desvalorizando a moeda, investindo na mão de obra, elevando a eficiência industrial e adotando preços internacionais para commodities, como o gás natural. "O alemão e o japonês buscam ganho de eficiência sempre. Não chegaram onde estão à toa. Eles se sentem premiados se conseguem ganho de 5%, que se acumula ao longo dos anos", elogiou.
A indústria está atrapalhada porque transferiu parte da produção para a Ásia nos últimos anos, não está ganhando competitividade ao mesmo tempo em que a massa salarial cresce e está competindo por mão de obra com o setor de serviços, que tem condições de repassar os aumentos de custos. Além disso, sofre os impactos do tradicional custo Brasil, que não é atenuado pelo "pacotismo" do governo.
"Solucionática"
Alguns setores já encontram soluções para se adaptar à realidade e contornar seus gargalos, comentou Mendonça de Barros.
Na construção civil, o problema é a falta de pessoal-emboa parte, provocada pela concorrência por mão de obra com o setor de serviços, que émais imune
à concorrência com importados e, por isso, pode repassar - e vem repassando-as pressões na forma de aumento salarial.
O apagão de trabalhadores leva a atraso nas obras, que resulta em redução de margens para as construtoras. Por isso, muitas estão deixando de oferecer aos compradores a personalização na planta, tendência estabelecida na explosão do setor.
GANGORRA
Fatores que aceleram ou freiam a economia brasileira
FATORES ATUAIS
ACELERADOR
Redução da taxa de desemprego a níveis recordes
Crescimento da massa salarial
Queda na inadimplência do consumidor (exceto no setor de carros)
Redução dos juros: a expectativa é chegar a dezembro com a Selic em, no máximo, 7,5%
FREIO
Queda no crescimento industrial, em especial no setor de veículos e na construção civil, que vem sofrendo atrasos e aumento de custos
Redução dos investimentos privados e públicos, como na revisão de plano feita pela Petrobras
Queda contínua nas exportações
FATORES DETERMINANTES PARA OS PRÓXIMOS DOIS ANOS
ACELERADOR
Continuidade no aumento do consumo da classe C, ainda que em menor escala do que no período entre 2006 e 2010
Crescimento das exportações da cadeia de recursos naturais
Crescimento dos investimentos privados (inclusive em conjunto com a Petrobras) e dos investimentos públicos na Copa do Mundo e na Olimpíada
Endividamento das famílias em alta
Coleta de impostos, que segue crescendo mais do que o PIB
FREIO
Desequilíbrios macroeconômicos crescentes
Redução da competitividade com aumento do custo Brasil combinado à forte valorização do Real
Redução da eficiência do setor público e ausência de reformas e avanços institucionais, como nas contas da previdência e nos indicadores fiscais,além de manutenção de diversas formas de indexação
Fonte: Brasil Econômico - 12/07/2012