Mercados internos ajudarão na crise, diz dirigente chinês
Sergio Leo | De Brasília
O "grande espaço" da demanda interna no Brasil e na China deve fazer parte das soluções para a crise financeira internacional, defendeu o vice-ministro de Relações Exteriores da China, Li Yucheng, depois de encontro de uma hora e meia com o secretário-geral do Ministério de Relações Exteriores, Ruy Nogueira. "Ao mesmo tempo em que temos de oferecer inteligência e pensamento para resolver a crise financeira, não podemos fazer protecionismo", defendeu.
Yucheng minimizou os atritos comerciais entre Brasil e China, porém, e previu que o comércio bilateral, hoje em torno de US$ 77 bilhões, estará entre US$ 200 bilhões a US$ 300 bilhões em dez anos. "É natural surgir divergências", disse, ao relatar que ouviu queixas de especialistas brasileiros contra barreiras ao mercado chinês e de empresas chinesas contra barreiras brasileiras.
"Queremos ajudar as empresas brasileiras a alcançar nosso mercado", garantiu. O ministro chinês ressalvou que, para aproveitar a abertura chinesa, as empresas do Brasil "precisam melhorar sua competitividade". Na China, a manutenção da meta de crescimento em 7% será auxiliada pelo processo de urbanização ainda em andamento, somado aos esforços de desenvolvimento científico e tecnológico e de exploração de novas fontes de energia, avalia o ministro.
Ele citou o crescimento chinês no primeiro semestre, de 7,8%, como indicação de que está garantida a meta de crescer 7,5% neste ano, conforme o plano quinquenal do governo. "Está ocorrendo uma mudança gigante na China, no entanto a política geral se mantém inalterada", disse o ministro, ao relatar a conversa com os diplomatas brasileiros.
Com a desaceleração econômica, a China passou de uma política de crescimento acelerado para um modelo de ajuste da estrutura econômica, com medidas para evitar o aumento da disparidade de renda, o desequilíbrio regional e o consumo excessivo de energia, disse ele. "Não vamos desistir da reforma e da abertura econômicas."
Para Yucheng, as enormes dívidas no continente europeu foram formadas principalmente devido a sistemas excessivamente generosos de PREVIDÊNCIA social, criados por motivos eleitorais, que causou o acúmulo progressivo de dívidas. "A Europa conta com uma única moeda, mas não tem uma política fiscal comum, construiu uma grande casa, mas sem telhado", comparou o dirigente chinês.
"Na época de sol, é confortável; mas, com chuva, sem teto, é terrível." A Europa, diz ele, teria de fazer uma "cirurgia dolorosa e impossível", necessitada de cortar gatos e, ao mesmo tempo, criar estímulos para assegurar o pagamento das dívidas. Os europeus têm condições, porém, com coordenação e uso de sua tecnologias avançada, de superar a crise, disse o ministro.
Fonte: Valor Econômico - 14/08/2012