Servidor aceita reajuste parcelado

Dezoito categorias profissionais do serviço público receberam oferta do governo de reajuste de até 37% e fecharam acordo para voltar ao trabalho. A Polícia Federal continua parada

Governo já tem acordo com mais de 30 categorias

Mais de 500 mil servidores devem votar hoje pelo fim da greve, que se arrasta há mais de três meses

Cristiane Bonfanti

Brasília, São Paulo e Rio Embora a maioria deva ser formalizada só hoje, no início da noite de ontem o governo contabilizava acordos com representantes de 30 categorias, que reúnem 90% dos servidores públicos do Executivo. Depois de um queda de braço com quase 40 setores - que aderiram às paralisações, prejudicando a população por mais de três meses -, o Ministério do Planejamento informou que cinco categorias assinaram proposta de reajuste parcelado em três anos e 25 indicaram que fechariam o acordo hoje.

A principal adesão ao acordo é da Confederação dos Trabalhadores no Serviço Público Federal (Condsef). Ao todo, 510 mil servidores do chamado carreirão, entre ativos e inativos, distribuídos em 18 órgãos, receberão aumentos entre 14,29% e 37,05% até 2015, com impacto de R$ 3,9 bilhões nas contas públicas. Os servidores de nível auxiliar receberão até R$ 630; os de nível médio, R$ 930, e os de nível superior, mil reais. Os aposentados levarão metade do percentual.

Parte dos servidores, como os do Distrito Federal, retorna ao trabalho hoje; outros, só na segunda-feira. Segundo o Planejamento, os acordos têm impacto máximo de 15,8% na folha em três anos.

- Aceitamos com algumas restrições. Queremos, por exemplo, que o governo continue negociando a tabela salarial da lei 12.277 (que em 2010 deu até 78% de aumento a economistas, geólogos, estatísticos, engenheiros e arquitetos) - disse Josemilton Costa, secretário-geral da Condsef.

O carreirão reúne basicamente os servidores do Plano Geral de Cargos do Poder Executivo (PGPE); da Carreira da Saúde, PREVIDÊNCIA e Trabalho (CPST); e do Plano Especial de Cargos (PEC). Eles trabalham em órgãos como Funasa, Funai, Arquivo Nacional, Imprensa Nacional e ministérios.

Ontem fecharam acordo os servidores do IBGE, que receberão reajustes de 15,8% a 20% até 2015. Hoje eles farão assembleias, devendo voltar ao batente na quinta-feira.

- O impacto no Orçamento deve ser de R$ 157 milhões em três anos. Fizemos acordo, mas não estamos satisfeitos. O IBGE merece um olhar melhor do governo - disse a presidente do sindicato da categoria, Suzana Lage Drummond.

O secretário de Relações do Trabalho do Ministério do Planejamento, Sérgio Mendonça, disse que agentes da Polícia Federal e auditores fiscais da Receita, alguns dos servidores mais bem remunerados, sinalizaram que não vão aceitar:

- Quem não fechar acordo poderá voltar a discutir reajustes no ano que vem, com impacto para 2014 - disse Mendonça, ressaltando que o governo só negociará o corte de ponto com o fim da greve.

As agências reguladoras também não chegaram a um consenso. A Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) notificou 14 laboratórios para informar as condições de seus estoques de medicamentos e insumos. Para Irineu Grinberg, presidente da Sociedade Brasileira de Análises Clínicas (Sbac), os efeitos continuarão sendo sentidos mesmo após o fim das mobilizações.

Na fila: Bancário e petroleiro

Os servidores do Judiciário Federal de São Paulo, em greve desde 8 de agosto, prometem "fechar o prédio" do Tribunal, na Avenida Paulista hoje a partir das 9h. E os auditores da Receita irão para a porta da sede paulista da Fazenda.

O diretor do Sindicato dos Trabalhadores do Poder Judiciário Federal de São Paulo (Sintrajud-SP), Cléber Aguiar lembra que a categoria não tem reajuste há seis anos. E diz que só voltam ao trabalho se o projeto de lei 6.613/09, que prevê reposição salarial de 31%, passar no Congresso.

Já a Polícia Federal de São Paulo, ainda em greve, fará assembleia hoje à tarde para levar a decisão à reunião com os sindicatos de outros estados na quinta-feira, em Brasília.

Depois da greve dos servidores públicos, nos próximos meses pode haver paralisações em outros setores. Após quase um mês de negociações, a Federação Nacional dos Bancos (Fenaban) ofereceu ontem aos bancários reajuste de 6%, ou 0,7% de aumento real. Bem abbaixo dos 10,25% pedidos pela categoria, sendo 5% de correção acima da inflação.

A campanha dos petroleiros, cuja data-base é em setembro, também está começando. No próximo dia 31, a Federação Única dos Petroleiros (FUP) vai entregar sua proposta à Petrobras. A FUP pede a reposição salarial com base no Índice do Custo de Vida (ICV) do Dieese de setembro de 2011 a agosto deste ano, que deve ficar em 6%, e aumento real de 10%.

Fonte: O Globo - 29/08/2012