As chaves da prosperidade nacional
Jeffrey D. Sachs
Em várias das reformas econômicas mais bem-sucedidas da história, países de bom senso aprenderam com as políticas de sucesso de outros e as adaptaram às condições locais. Na longa história do desenvolvimento econômico, a Grã-Bretanha do século XVIII aprendeu com a Holanda; a Prússia do início do século XIX aprendeu com a Grã-Bretanha e a França; o Japão da era Meiji de meados do século XIX aprendeu com a Alemanha; a Europa pós-Segunda Guerra Mundial aprendeu com os Estados Unidos; e a China de Deng Xiaoping aprendeu com o Japão.
Com processos de empréstimos institucionais e adaptação criativa, instituições econômicas bem-sucedidas e tecnologias de vanguarda se espalharam pelo mundo e, dessa forma, impulsionaram o crescimento mundial.
Por exemplo, enquanto muitos países se deparam com a falta de empregos, uma parte do mundo capitalista vai bem: o norte da Europa, incluindo a Alemanha, a Holanda e a Escandinávia. O índice de desemprego da Alemanha neste verão europeu girou em torno a 5,5%, sendo que a desocupação entre os mais jovens rondou os 8% - números extraordinariamente baixos em comparação com outras economias de alta renda.
Eis uma economia modelo: as políticas trabalhistas alemãs, a PREVIDÊNCIA social sueca, a energia de baixa emissão francesa, a assistência médica canadense, a eficiência energética suíça, a curiosidade científica americana, os programas antipobreza brasileiros
Como os europeus do norte conseguem isso? Todos se valem de políticas ativas no mercado de trabalho, incluindo horários flexíveis, estágios de aprendizado da "escola-ao-trabalho" (especialmente na Alemanha) e amplos programas de treinamento profissional.
Diante das crises orçamentárias crônicas, Alemanha, Suécia e Suíça exibem orçamentos quase equilibrados. Os três apoiam-se em regras orçamentárias que preveem um equilíbrio com ajustes baseados nos ciclos econômicos. E tomaram a precaução de manter sob controle seus gastos com benefícios sociais: a idade mínima de aposentadoria é de 65 anos. Isso mantém seus custos bem inferiores aos da França e Grécia, por exemplo.
Em tempos marcados por aumentos nos custos com assistência médica, a maioria dos países de alta renda - Canadá, as economias da União Europeia Ocidental e o Japão - consegue manter seus custos totais 2 na área abaixo de 12% do Produto Interno Bruto (PIB), com excelentes resultados no sistema de saúde, enquanto os Estados Unidos gastam cerca de 18% do PIB, mas com resultados definitivamente medíocres. Um novo estudo 3 do Instituto de Medicina dos EUA (IOM, na sigla em inglês) revela que o sistema com fins lucrativos do país gasta cerca de US$ 750 bilhões, 5% do PIB, em fraudes, desperdícios, duplicação e burocracia.
Mesmo com a disparada dos preços do petróleo, poucos países fizeram mudanças na eficiência energética. Os países da Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), usam em média uma energia equivalente a 160 quilos de petróleo para cada US$ 1 mil de PIB (medido pela paridade de poder de compra) 4, sendo que na Dinamarca o número é de apenas 110 quilos, em comparação aos 190 quilos verificados nos EUA.
Com as mudanças climáticas, vários países mostram como passar a uma economia de baixa emissão de gás carbônico. Em média, os países ricos emitem 2,3 quilos de gás carbônico 5 por quilo de unidade de energia equivalente a petróleo. A França, porém, emite apenas 1,4 quilo, graças a seu grande sucesso no uso de energia nuclear segura e de baixo custo.
A Suécia, com sua energia hidrelétrica, emite ainda menos, 0,9 quilo. E, embora a Alemanha esteja abandonando a produção doméstica de energia nuclear por motivos políticos, podemos apostar que ainda assim vai continuar a importar eletricidade das instalações nucleares francesas.
Em tempos de intensa concorrência tecnológica, os países que combinam financiamento público e privado na pesquisa e desenvolvimento superam os demais. Os EUA continuam a sobressair-se, com grandes avanços recentes na exploração de Marte e na genômica, embora cortes orçamentários agora coloquem essa posição de destaque em risco. Paralelamente, Suécia e Coreia do Sul agora se destacam economicamente graças a gastos em pesquisa e desenvolvimento em torno a 3,5% do PIB 6, enquanto em Israel a relação alcança notáveis 4,7% do PIB.
Em tempos de crescente desigualdade, alguns países encolheram suas diferenças de renda e riqueza. O Brasil é o recente líder, tendo ampliado a educação pública e combatido de forma sistemática os bolsões de pobreza remanescentes com programas específicos de transferência. Como resultado, a desigualdade no Brasil está em queda.
E, em tempos de ansiedade generalizada, o Butão faz questões profundas sobre o próprio significado e natureza da felicidade. Em busca de uma sociedade mais equilibrada, que combine prosperidade econômica, coesão social e sustentabilidade ambiental, o Butão ganhou notoriedade por buscar a Felicidade Interna Bruta (FIB) 7 em vez do Produto Interno Bruto. Muitos outros países, incluindo o Reino Unido, agora seguem a liderança do Butão e pesquisam a satisfação de vida de seus cidadãos.
Os países que estão no topo das classificações de satisfação de vida são Dinamarca, Finlândia e Noruega. A tropical Costa Rica também está no topo da liga da felicidade. O que podemos dizer é que todos os países mais felizes enfatizam a igualdade, solidariedade, prestação de contas democrática, sustentabilidade ambiental e instituições públicas sólidas.
Aqui está, então, uma economia-modelo: as políticas trabalhistas alemãs, a PREVIDÊNCIA social sueca, a energia de baixa emissão de gás carbônico francesa, a assistência médica canadense, a eficiência energética suíça, a curiosidade científica americana, os programas antipobreza brasileiros e a felicidade tropical costarriquenha.
Naturalmente, no mundo real, a maioria dos países não conseguirá isso tão cedo. Mas, se abrirmos os olhos para as políticas bem-sucedidas no exterior, certamente aceleraremos o ritmo dos avanços nacionais em países por todo o mundo. (Tradução de Sabino Ahumada)
Jeffrey D. Sachs é professor de economia e diretor do Instituto Terra, da Columbia University. É também assessor especial do secretário-geral das Nações Unidas no tema das Metas de Desenvolvimento do Milênio.
Fonte: Valor Econômico - 28/09/2012