Brasil abaixo da média mundial
FMI: Brasil vai crescer metade da média global
Fundo prevê que economia brasileira deve avançar 1,5% este ano, abaixo dos demais países do Bric. Para 2013, projeção é de 4%
Claudia Sarmento
Correspondente
Horizonte nebuloso. Edifício em Tóquio onde será a reunião do FMI: piora nas previsões
Tóquio A reunião do Fundo Monetário Internacional (FMI) e do Banco Mundial teve início ontem, em Tóquio, com notícias ruins sobre a economia global. A nova edição do relatório Perspectivas para a Economia Mundial é mais sombria do que as análises divulgadas em julho. O fundo derrubou quase todas as previsões de crescimento, e o Brasil não escapou. Segundo o FMI, a economia mundial crescerá 3,3% em 2012 contra 3,5% previstos há três meses.
A estimativa para o crescimento brasileiro ficou abaixo desta média: caiu de 2,5% para 1,5% - uma das maiores reduções tanto entre as nações ricas quanto entre as emergentes. Pelas projeções do FMI, o Brasil terá resultado bem inferior a dos outros países do Bric. Para a Rússia, a estimativa é de 3,7%; para Índia, 4,9%; e China, 7,8%.
"A recuperação continua, mas enfraqueceu", resume o relatório do fundo, alertando que o desemprego deve continuar alto em várias partes do planeta. As principais ameaças vêm da zona do euro e do chamado abismo fiscal nos EUA - a possibilidade de serem retiradas, em janeiro, isenções de impostos concedidas no governo Bush, ao mesmo tempo em que entrariam em vigor cortes automáticos dos gastos federais, se não houver um acordo no Congresso americano. O Fundo também cita o enfraquecimento de instituições financeiras e políticas inadequadas em nações desenvolvidas.
Ainda assim, espera-se uma melhora global em 2013, embora os índices também tenham sido revistos para baixo. A previsão de crescimento mundial no ano que vem caiu de 3,9% para 3,6%. O Brasil crescerá 4% (ante os 4,7% estimados em julho), segundo o FMI.
risco de abismo fiscal nos eua
De acordo com o relatório do FMI, as projeções se baseiam em duas premissas cruciais: a de que os políticos europeus manterão a crise do euro sob controle e as autoridades americanas tomarão medidas para enfrentar o abismo fiscal. "Um fracasso nessas questões tornaria as perspectivas ainda piores", alerta o documento.
Os países industrializados deverão crescer em média 1,3% em 2012 e 1,5% em 2013. Para as economias emergentes, o FMI prevê uma expansão da atividade em 2012 de 5,3% e, em 2013, de 5,6%. A China continua sendo um gigante se comparada às outras nações, mas também sofre desaceleração. Deverá crescer 7,8% este ano e 8,2% em 2013 - uma contração de 0,2 ponto percentual nas duas projeções.
"Baixo crescimento e incertezas nas economias avançadas estão afetando os mercados emergentes e as economias em desenvolvimento através do comércio e de canais financeiros, somados a fraquezas domésticas", disse o economista-chefe do FMI, Olivier Blanchard, que assina o capítulo inicial do documento.
FUNDO SUGERE REFORMAS NO BRASIL
O volume do comércio mundial deve crescer 3,2% este ano, índice inferior aos 5,8% de 2011 e 12,6% de 2010. A redução da expansão do PIB latino-americano para cerca de 3% na primeira metade do ano (a região cresceu 4,5% em 2011) se deve, em grande parte, ao desempenho brasileiro. Segundo o FMI, isso é "um reflexo do impacto de políticas para conter a pressão inflacionária e medidas para moderar o crescimento do crédito em alguns segmentos do mercado".
O relatório pede reformas estruturais em vários países. No caso do Brasil, onde um dos grandes componentes do crescimento tem sido o consumo interno, com baixas taxas de investimento e poupança doméstica, o Fundo sugere reformas no sistema de PREVIDÊNCIA "para fortalecer a posição fiscal do país e desenvolver instrumentos financeiros de longo prazo".
O documento do FMI, no entanto, também salienta a perspectiva de aceleração do crescimento brasileiro no ano que vem. O fundo cita "as medidas fiscais destinadas a impulsionar a demanda no curto prazo e a flexibilização da política monetária, incluindo cortes nas taxas de juros".
Blanchard admitiu que a queda nas projeções das economias emergentes, principalmente China, Índia e Brasil, chama a atenção, mas enfatizou que medidas positivas vêm sendo tomadas nos três países:
- As ações recentes são apropriadas. Apostamos na aceleração brasileira.
Em linhas gerais, a grande questão a médio prazo, diz o Fundo, é saber como a economia mundial pode operar com governos altamente endividados.
- A Espanha e a Itália precisam manter os planos de ajuste para restabelecer a competitividade e o equilíbrio fiscal. Deverão recapitalizar seus bancos sem sobrecarregar o déficit - ressaltou Blanchard.
Fonte: O Globo - 09/10/2012