Quarto banco a tombar
VÂNIA CRISTINO
Com necessidade de pelo menos R$ 1 bilhão para se manter de pé e graves irregularidades em seus balanços, o Banco BVA sofreu ontem intervenção por parte do Banco Central. A medida não surpreendeu o mercado, que, há meses, já cogitava a possibilidade de a instituição fechar as portas devido à sua frágil saúde. A situação se agravou nas últimas semanas, quando houve uma corrida por saques no banco. A falência era iminente. Essa foi a quarta instituição a ter as atividades interrompidas pelo BC de Alexandre Tombini. Antes do BVA, foram liquidados o Morada, o Prosper e o Cruzeiro do Sul.
Para tentar retardar ao máximo uma ação mais forte do Banco Central, que já vinha monitorando sua situação, o BVA deixou de apresentar seus balancetes mensais à autoridade monetária — dados não auditados de junho deste ano mostraram prejuízos de R$ 100 milhões. Suspeitando de irregularidades, os fiscais do BC passaram a vistoriar pessoalmente os números da instituição e encontraram créditos podres classificados como de ótima qualidade. A diretoria do BVA foi obrigada a refazer as contas e a cobrir os rombos. Apenas para zerar o deficit nos seus balanços precisaria de R$ 550 milhões. Mas os controladores do banco não conseguiram levantar esses recursos, sobretudo diante da desconfiança do mercado. Antes que o estrago ficasse maior, o BC interveio.
Nos próximos 60 dias, o servidor Eduardo Félix Bianchini, nomeado interventor do BVA, terá de apresentar um relatório sobre a real situação do banco. Ninguém acredita em possibilidade de recuperação. Ou seja, tudo leva a
crer que o BC terá de decretar a liquidação extrajudicial da instituição. Antes mesmo disso, o Fundo Garantidor de Crédito (FGC) foi chamado para cobrir as aplicações dos clientes até o limite de R$ 70 mil por CPF. A maioria tinha quantias aplicadas em certificados de depósito bancário (CDBs), títulos com os quais o BVA captava recursos para emprestar a pequenas e médias empresas, seu público alvo. Já os depósitos com garantias especiais serão cobertos até o limite de R$ 20 milhões. Nesse caso, a maioria dos clientes é de fundos de PENSÃO de empresas estatais. Ao honrar esses compromissos, o FGC ficará credor da massa falida do banco.
O BVA é uma instituição de pequeno porte. Detém apenas 0,17% dos ativos do sistema financeiro e 0,24% dos depósitos, com sete agências localizadas nos estados do Rio de Janeiro, Minas Gerais e São Paulo. O banco não recebia depósitos à vista nem em caderneta de poupança. A intervenção foi decretada pelo prazo de 180 dias, podendo, a critério do BC, ser prorrogada por igual período. “Muito provavelmente, a liquidação extrajudicial será anunciada. Tudo indica que estamos diante de mais um caso sem solução”, disse um técnico do governo. Ele ressaltou que os indícios de fraudes são evidentes, tanto que o BC já abriu vários processos administrativos contra os gestores da instituição. Se comprovados os desvios, eles serão denunciados à Justiça, para as devidas ações penais.
Para que os controladores e gestores não desviem mais recursos do BVA, o Banco Central decretou o bloqueio de todos os bens deles. Três empresas e 17 pessoas estão na lista. Os controladores diretos do BVA são as companhias Vila Velha Empreendimentos, V55 Empreendimentos e Vilaflor Participações. O controlador indireto é o fundador da instituição, José Augusto Ferreira dos Santos. Os membros da diretoria do BVA são: Antônio Carlos Conversano, Antônio Luiz de Oliveira Pinto Pascoal, Benedito Ivo Lodo Filho, Carlos Jorge Moreno Yasaka, Edison Gandolfi, Edson Vicente Sivieri, Hermes Xavier dos Santos, José Antônio La Terza Ferraiuolo, José Ricardo Ceravolo Risolia, Luiz Rodolfo Palmeira Vasconcellos e Robson Luiz de Souza Brandão.
Segundo o presidente do Instituto de Auditores Internos do Brasil, Braselino Silva , a intervenção do BVA não causa temores e nem implica em qualquer risco sistêmico ao mercado bancário brasileiro. “A ação do Banco Central teve caráter preventivo e sinaliza o rigor com que vem agindo para assegurar a liquidez e a solvência do sistema financeiro nacional”, disse.
Rebaixamento geral
As agências de classificação de risco concordam. A Fitch informou, por meio de nota, que a intervenção no BVA não provocará qualquer impacto no sistema bancário brasileiro. Diante da demora em divulgar os resultados financeiros semestrais, a agência de classificação de risco Moody"s já tinha rebaixado, no fim de setembro, o rating do BVA .“Os últimos relatórios de 2011 reportaram um enfraquecimento da qualidade dos resultados, também afetados pelos altos custos operacionais e de crédito, à medida que a qualidade de ativos deteriorou” explicou a Moody"s.
Fonte: Correio Braziliense - 20/10/2012