Bancos falidos deixam rombo de R$ 10,8 bilhões
Apesar da quase certeza sobre a intervenção do Banco Central no Banco BVA, efetivada na última sexta-feira, o clima de insegurança que já rondava o sistema financeiro se agravou. O fim de semana foi marcado por troca de telefonemas entre executivos de várias instituições, especialmente as de pequeno e médio portes, que veem uma escassez ainda maior de recursos para se financiarem. "Sinceramente, não acreditamos muito quando o BC assegura que todos os problemas foram resolvidos, que, com a intervenção no BVA, deu-se por encerrado o processo de fechamento de bancos em dificuldades", diz um integrante do setor. "Vivemos tempos de incertezas. Está cada vez mais difícil tocar nossos negócios", acrescenta.
O motivo, destaca outro executivo, é o medo dos investidores de serem surpreendidos. Ele ressalta que, a cada intervenção, o discurso do diretor de Fiscalização do BC, Anthero Meirelles, é sempre o mesmo. Ou seja, de que não há mais problemas e que as irregularidades detectadas eram localizadas. Mas, nos últimos dois anos, sete bancos (PanAmericano, Cruzeiro do Sul, Morada, Schahin, Prosper, Matone e BVA) e uma financeira (Oboé) fecharam as portas ou tiveram as operações transferidas para outros grupos. Juntos, deixaram um rombo aproximado de R$ 10,8 bilhões. Esse buraco é maior do que o total de ativos administrados pela 32ª maior instituição do país, o Banco da Amazônia (Basa).
Chama a atenção, no entender dos especialistas, a facilidade com que, ao longo de anos, os bancos liquidados ou vendidos conviveram com fraudes, vendendo uma saúde que não tinha, sem serem importunados pelo BC. No Matone, incorporado pelo grupo JBS, descobriu-se um buraco de R$ 850 milhões cavado por meio de operações fictícias. No BVA, o total de créditos contabilizados de forma errada chega a R$ 550 milhões, mas, para se manter de pé, a instituição precisa de ao menos R$ 1 bilhão, o que sentencia sua liquidação. No Cruzeiro do Sul e no PanAmericano, onde a farra contábil era institucionalizada, os rombos chegaram a R$ 4,3 bilhões e a R$ 3,1 bilhões, respectivamente.
A cobrança em cima do BC, por causa desses sucessivos casos de fraudes, só não tem sido maior porque as operações não vêm envolvendo dinheiro público, como ocorreu nos anos 1990, com o Programa de Estímulo à Reestruturação do Sistema Financeiro (Proer). Desta vez, a conta está recaindo sobre o Fundo Garantidor de Crédito (FGC), instrumento criado para garantir depósitos de até R$ 70 mil de pessoas físicas em conta-corrente e na caderneta de poupança e de até R$ 20 milhões em operações especiais, normalmente feitas por fundos de PENSÃO, que administram recursos de trabalhadores.
"Porém, se outro caso perturbar o mercado nos próximos meses, pode ter certeza de que o BC será cobrado de forma mais incisiva. E não serão aceitas justificativas rasas, de oba-oba. Sistema bancário vive de confiança. E esse importante ativo anda desgastado, sobretudo no que se refere aos bancos de pequeno e médio portes", admite um técnico do governo.
Fonte: Correio Braziliense - 22/10/2012