Wall Street se recupera, mas prefere Romney
Por Roben Farzad | Bloomberg BusinessWeek
Ao que parece, muita gente gostaria de pagar uma cerveja para Barack Obama nos pubs de Wall Street. Desde que ele assumiu, em janeiro de 2009, o índice Standard & Poor"s 500 (S&P 500), incluindo os dividendos, quase dobrou de valor. Os EUA ganharam US$ 7,3 trilhões em valor de mercado - uma benção indiscutível para os aposentados comuns e o 1% mais rico. Os seis maiores bancos do país acabam de ter seu melhor período de 12 meses desde antes da crise financeira. Em certos aspectos, é como se 2008 não tivesse ocorrido.
Obama é um dos cinco presidentes desde 1900 a testemunhar uma valorização de ao menos 50% do mercado de ações durante seus primeiros três anos de mandato. Assim, ele passa a fazer companhia a Coolidge, Franklin Delano Roosevelt, Eisenhower e Clinton. A marca de US$ 7,3 trilhões deveria parecer irresistível, especialmente para uma campanha que vem sendo duramente pressionada a mostrar conquistas financeiras.
Mas não espere ouvir Obama falar muito sobre essa fase de alta do mercado. Por um motivo: ele fez dos banqueiros de investimentos bodes expiatórios. "O governador Romney quer deixar Wall Street sem rédeas novamente", tuitou ele na semana passada. "Mas ele vai castigar Vila Sésamo." Foi uma referência do presidente à promessa do candidato republicano de cortar as verbas para a rede de TV pública PBS, que exibe a série.
Obama propõe elevar os impostos sobre dividendos e ganhos de capital, em contraste com os cortes propostos por Mitt Romney, que vem de uma linhagem com tradição no mundo do PRIVATE EQUITY. Mesmo que Obama quisesse usar a boa fase do mercado para dar uma arrancada final na campanha, uma sensação de confusão e contração vem diminuindo o público-alvo nesta "classe de investidores" nos EUA. Ah, e a economia no geral parece fraca. Por que, então, despertar mais críticas nesse front?
"A utilidade para Obama é limitada a esta altura", diz Andy Laperriere, chefe da prática de análises políticas do ISI Group. "Embora as ações estejam em alta, os salários estão em queda, o crescimento do PIB tem sido anêmico e a taxa de desemprego continua elevada."
Ao contrário da crença popular, os mercados americanos vêm se saindo bem melhor sob os presidentes democratas. Segundo o Barclay"s Research e a revista "The Economist", desde 1929 eles vêm apresentando um retorno anual médio de 10,8% sob os governos democratas, em comparação a 2,7% sob os governos republicanos. É claro que um presidente exerce muito controle sobre a economia e os mercados, que precisam processar tudo, das taxas de juros a guerras e choques do petróleo, escândalos financeiros, euforia e estouro de bolhas e pânico.
No caso de Obama, as ações começaram a desabar poucas semanas antes de sua eleição e atingiram o fundo do poço só em março de 2009, quando bateram em patamares não vistos desde a metade da década de 90. Sim, o estímulo fiscal e o socorro a certos bancos e montadoras promovidos por Obama ajudaram a conter uma queda livre generalizada. Mas a acomodação recorde do Fed sob a direção de Ben Bernanke e o despontar do domínio mundial exercido pela Apple também fizeram isso.
Greg Valliere da Potomac Research não vê uma correlação entre as presidências e os mercados. "Você pode provar ou refutar quase tudo com as estatísticas", alega. "Mas eu diria que o mercado claramente quer a vitória de Romney porque ele traria uma sensação de previsibilidade para questões como a política fiscal."
No Orçamento proposto por Obama, a alíquota mais alta sobre dividendos será mais que o dobro dos atuais 15%, passando para 43,4%. A maior alíquota sobre os ganhos de capital saltaria de 15% para 30%. Além disso, a lei de Obama conhecida como Affordable Care Act prevê um imposto sobre certos investimentos de 3,8% em certas faixas. Em comparação, o plano econômico de Romney promete uma continuação do atual desconto na taxação de dividendos e alíquotas menores de imposto de renda em todas as faixas.
Valliere diz que o mercado de ações esteve em alta no primeiro mandato de Obama "em grande parte porque não tinha mais como cair e o choque do colapso de 2008 foi diminuindo gradualmente". Ele credita a alta contínua do mercado aos estímulos do Fed.
O S&P 500 estabeleceu seu recorde absoluto há cinco anos, nos dias finais da bolha de crédito que atingiu seu pico sob o governo Bush. Numa base de retorno total (incluindo dividendos), o índice atingiu novos patamares de alta este ano. O problema é que o número recorde de pequenos investidores que poderiam ter simpatia por Obama - sejam quem forem e onde quer que estejam agora - parece não estar dando a mínima.
Os investidores estão abandonando o mercado em massa. Segundo o Investment Company Institute (ICI), 46% das famílias americanas afirmam ter ações e fundos de ações, uma queda em relação ao número de 2001, de 53%. Desde que o mercado chegou ao seu ponto mais baixo, há três anos e meio, os investidores já sacaram um total líquido de US$ 138 bilhões dos fundos mútuos e dos negociados em bolsa de valores que aplicam em ações americanas, afirma o ICI.
Em meio a essa apatia, comenta-se que o mercado na verdade não quer a saída de Obama. Afinal, os juros ultra-baixos se devem ao impasse entre a Casa Branca e o Congresso e à acomodação recorde do Fed. A vitória de Romney-Ryan não diminuiria as chances de Bernanke permanecer no comando do banco central americano?
Na conferência Big Picture, na semana passada, em Manhattan, o investidor Jim Bianco disse que o mercado recuou após a atuação ruim de Obama no primeiro debate presidencial, refletindo a maior chance de os republicanos assumirem as políticas fiscal e monetária.
"O mercado", insiste Valliere, "quer Romney e ponto final. Os profissionais do mercado reconhecem que as ações estão se saindo bem, mas a grande maioria dessas pessoas está convencida de que o mercado vem subindo apesar de Obama, e não por causa dele."
Portanto, você pode entender por que Obama não quer tentar tirar vantagem da fase de alta do mercado. Ele não precisa de uma continuação a "você não fez isso".
Fonte: Valor Econômico - 23/10/2012