Quebrar privilégios é desafio para nova China
MINXIN PEI
ESPECIAL PARA A FOLHA
A transição de liderança na China começará com a abertura do 18º Congresso do Partido Comunista, em 8 de novembro, mas até o momento a atenção está concentrada nas personalidades: estamos tentando adivinhar quem será alçado à liderança.
Ocasionalmente, surgem especulações sobre as políticas que os novos líderes deverão favorecer. Lamentavelmente, os imensos desafios que eles terão de enfrentar receberam pouca atenção.
Se avaliarmos o ambiente em que essa transição está ocorrendo, não seria exagero dizer que os novos líderes enfrentarão tarefas assustadoras, em todas as frentes.
A economia em desaceleração será sua maior preocupação. Depois de manter crescimento em dois dígitos por três décadas, a China mostra sinais de fadiga.
Sobrecarregada de desequilíbrios estruturais como o excesso de investimento e o consumo insuficiente, a economia está especialmente vulnerável à queda na demanda externa e na lucratividade causada pelo excesso de capacidade da indústria.
A combinação entre uma política de crédito frouxa e um sistema financeiro precariamente regulamentado criou uma bolha de imóveis e no setor de infraestrutura.
O setor bancário talvez tenha criado mais de US$ 1 trilhão em maus empréstimos, o que representa uma bomba-relógio que pode explodir a qualquer momento nos próximos três anos.
Desativá-la será comparativamente fácil diante da necessidade de colocar o crescimento econômico em um percurso sustentável.
Os novos líderes não poderão mais depender do investimento para promover crescimento. Precisam canalizar recursos ao setor domiciliar para incentivar o consumo.
Mas isso requererá reformas quase revolucionárias no sistema tributário, nos mercados de capitais, na PREVIDÊNCIA e nos serviços governamentais e de privatização.
Politicamente, essas reformas serão extremamente difíceis, porque requerem transferência de renda e riqueza dos grupos de interesse dominantes, principalmente a burocracia, os governos locais e as estatais, para as pessoas comuns.
Porque esses grupos formam o núcleo do regime, é difícil imaginar que aceitem perder privilégios sem lutar.
A reforma econômica não acontecerá a menos que a oposição política a ela seja removida. Eliminar essa oposição é impossível sem a mobilização da população.
Ou seja, alguma forma de democratização será necessária a fim de forçar as elites a fazer concessões. Mas "democracia" é uma palavra que o PC vem tentando expurgar.
Assim, os novos líderes enfrentam um impasse. Não podem reformar a economia sem introduzir reformas democráticas. Mas correm o risco de perder o poder caso concedam liberdades que o povo poderia aproveitar para promover uma revolução.
MINXIN PEI é professor de administração pública no Claremont McKenna College
Fonte: Folha de S.Paulo - 05/11/2012