Mercado vê como inevitável o resgate da Espanha

As autoridades da zona do euro devem pedir mais reformas e mais ajuste fiscal. Ainda assim, a meta de déficit fiscal para 2013 não será cumprida, bem como não avançará a reforma da PREVIDÊNCIA.

Por Roberta Costa e Aline Oyamada | De São Paulo

As instituições financeiras começam a desenhar cenários para 2013. O destino da Espanha é colocado como um tema relevante na opinião do Nomura e do Bank of America Merrill Lynch (BofA), uma vez que o país segue na berlinda, embora a pressão sobre o financiamento de sua dívida tenha arrefecido na esteira da "promessa" do Banco Central Europeu (BCE) de que usará todas as armas para manter a estabilidade na zona do euro.

De certo, o que se sabe é que a união monetária enfrentará inevitavelmente uma recessão em 2013, que resultará de uma desaceleração mais forte nas economias periféricas e menos intensa nos países centrais. O Nomura projeta retração de 0,8% para o PIB da zona do euro e de 3% do PIB espanhol. O BofA prevê queda de 0,4% e 1,5%, respectivamente.

As condições fiscais dos países e a preocupação em torno da solvência do sistema financeiro são o pano de fundo das projeções para 2013.

O Nomura afirma ter poucas dúvidas de que a Espanha continuará a alimentar expectativas de um pedido de resgate sem de fato puxar o gatilho, uma estratégia de alto risco. Segundo a casa, quatro possíveis "triggers" (gatilhos) precipitariam a ativação do OMT (programa de compra de ativos): 1) um rebaixamento no rating atual e, pior ainda, a perda do status de "investment grade" [o que aconteceria com um novo rebaixamento pela Moody"s; 2) a perda de confiança dos investidores por conta do adiamento do resgate, o que elevaria o temor da falta de liquidez dos ativos espanhóis; 3) a formalização de que o país não solicitará ajuda, desconstruindo o discurso de Mario Draghi, o presidente do BCE, colocando pressão sobre os retornos da dívida; 4) a perda de "paciência" do BCE, o que empurraria a Espanha para um programa de ajuda, a exemplo dos países já no âmbito da troica.

Para o BofA, um resgate para a Espanha só virá em 2013, mas a probabilidade de um pedido voluntário é baixa. Isso porque a pressão do mercado é pequena sobre o país. Por outro lado, as autoridades da zona do euro devem pedir mais reformas e mais ajuste fiscal. Ainda assim, a meta de déficit fiscal para 2013 não será cumprida, bem como não avançará a reforma da PREVIDÊNCIA.

A recapitalização dos bancos, entretanto, vai prover funding ao sistema por todo 2013. A Asset Management Company - conhecido como "bad bank" - vai fornecer € 62 bilhões em ativos além da injeção de € 38 bilhões provenientes do fundo de resgate ESFS/ESM por meio do Frob (Fundo de Reordenação Bancária). Os € 100 bilhões resultantes fornecerão liquidez e colaterais elegíveis para os bancos por todo o ano.

Ainda assim, a liquidez não vai evitar que a Espanha seja impelida a pedir socorro por duas razões: 1) a economia não vai melhorar em 2013, o que eleva a probabilidade de um rebaixamento no rating soberano; 2) se de fato houver essa ação, os bancos (os que estão e os que não estão em reestruturação) estarão menos dispostos a auxiliar o país no que diz respeito à rolagem da dívida, o que bloquearia o acesso do país à liquidez.

Para o BofA, a pressão do mercado deve ser amplificada no ano que vem por conta da sequência de fatos como estouros de metas fiscais, mesmo com novos planos de austeridade, e o não avanço das reformas no quarto trimestre de 2012 e no primeiro trimestre de 2013. Isso reduziria a demanda por títulos soberanos espanhóis e, assim, o resgate ocorreria no primeiro semestre de 2013.

Fonte: Valor Econômico - 21/11/2012