Juro real baixo adia data da aposentadoria

Futuro beneficiário poderá trabalhar até mais cinco anos para receber o que tinha planejado no passado

Investidor deve ficar atento a taxas elevadas de administração e a outros custos no aporte e quando pede resgate

TONI SCIARRETTA DE SÃO PAULO

Os juros baixos abalaram o rendimento das aplicações conservadoras em renda fixa neste ano, mas, para a PREVIDÊNCIA privada, o resultado foi ainda mais desastroso: trabalhar mais anos até se aposentar ou elevar, agora, o valor das contribuições.

Quem planejava, por exemplo, receber R$ 3.000 mensais daqui 20 anos contribuindo com R$ 1.249,83 mensais quando os juros reais (descontada a inflação) estavam em 6% ao ano, como ocorria há um ano, terá agora de trabalhar mais 4,5 anos, segundo simulação que leva em conta juros reais de 2% (veja quadro ao lado).

Com os juros em 7,25% e a inflação projetada em 5,34%, a taxa real hoje é de 1,91%.

Se o futuro beneficiário insistir em manter o prazo de 20 anos para se aposentar, terá obrigatoriamente de elevar a contribuição de R$ 1.249,83 para R$ 2.113,50 mensais.

"Com juro menor, não há saída: ou a pessoa trabalha mais ou tem que aumentar o valor dos aportes", disse Sergio Prates, diretor da Icatu.

A terceira alternativa é arrumar algum jeito de elevar a rentabilidade do plano de PREVIDÊNCIA de volta para 6%, seja diversificando com ações seja com títulos de dívida de empresas, que pagam taxas maiores. Ambas as opções, porém, têm maior risco de dar errado em época de crise.

E esses cálculos todos desprezam ainda o efeito das taxas de administração e outros custos acertados pelo banco.

Como acontece nos fundos de investimento, na PREVIDÊNCIA privada as taxas de administração a partir de 1,5% já são consideradas proibitivas, por "corroerem" a maior parte do ganho real nos planos conservadores, que seguem os juros do governo.

A única diferença é que na PREVIDÊNCIA privada o Imposto de Renda não incide durante a aplicação -apenas no resgate do benefício.

Além da taxa de administração, cobrada pelo banco para cuidar do dinheiro do cliente, os planos de PREVIDÊNCIA costumam ter desconto de taxa de carregamento, que incide no valor aplicado. Quem aplica R$ 1.000 com taxa de carregamento de 5%, na verdade está levando para o plano apenas R$ 950.

Há ainda taxa de saída, que incide em eventuais pedidos de resgate.

Com o aumento da concorrência, porém, parte das seguradoras deixou de cobrar taxa de carregamento. Vários preferem cobrar a taxa de saída, escalonada (diminui ao longo do tempo), para quem resgata antes de cinco anos.

"O cliente está mais preocupado em acompanhar seus investimentos. Ele quer aceita ganhar menos, se for continuamente", disse Carolina de Molla, diretora técnica de PREVIDÊNCIA da SulAmérica.

"Com o aumento da concorrência, a tendência é diminuir os custos, que já estão bem alinhados com o mercado internacional. Quase não há mais taxa de carregamento nos planos corporativos", disse Rossi, presidente da Fenaprevi (Federação de PREVIDÊNCIA Privada).

Fonte: Folha de S.Paulo - 26/11/2012