Demografia (I): envelhecimento mundial

Ao longo de 2013, pretendo compartilhar com os leitores alguns ensinamentos que fui colhendo ao longo dos anos

Fabio Giambiagi

Ao longo de 2013, pretendo compartilhar com os leitores alguns ensinamentos que fui colhendo ao longo dos anos nos quais me dediquei às questões demográficas, em função do estreito vínculo que existe entre essa área do conhecimento e a PREVIDÊNCIA Social, a cerca da qual venho escrevendo há 20 anos. Independentemente da controvérsia que afeta o debate referente à reforma da PREVIDÊNCIA, a demografia é interessante em si e combina desde modelos matemáticos ligados às projeções de longo prazo, até os assuntos da alma humana, como os que dizem respeito ao casamento e como isso afeta a dinâmica das despesas previdenciárias por meio do pagamento de pensões. Tudo isso passando por curiosidades diversas, como o fato de que nascem mais meninos do que meninas.

Deixando de lado um pouco o esforço de catequese no qual me envolvi nas páginas deste mesmo jornal durante um longo tempo, relacionado com a defesa - reconheço que com escasso sucesso - de propostas de reforma das regras de aposentadoria, a intenção, mais amena, desta série de doze artigos é apenas a de dividir com o público parte do que fui aprendendo nessa travessia intelectual.

O meu "roteiro" para essa "viagem" pela demografia que aqui iniciamos envolve tratar de um tema por mês. Depois deste "capítulo", em fevereiro pretendo abordar a mudança do perfil demográfico da sociedade brasileira. Na sequência, o objetivo é tratar dos seguintes assuntos, até dezembro: a intensidade das revisões da projeção populacional até 2050; um "raio-x" das principais novidades trazidas pelo Censo de 2010; a maior frequência de nascimento de bebês do sexo masculino; a natureza de "ondas" do processo de envelhecimento por faixa etária; a perspectiva de redução da População Economicamente Ativa (PEA); a relação entre as tendências populacionais e a economia; o encolhimento quantitativo da população jovem; a magnitude do fenômeno dos "super-idosos"; o peso das mulheres na população idosa; e o aumento da expectativa de sobrevida.

Um dia, em matéria de demografia, o Japão será aqui. Cedo ou tarde, teremos que pensar nisso

O início desta série se dá com o tema de hoje, que é a natureza universal do fenômeno do envelhecimento demográfico. O Brasil é um país onde a população está envelhecendo e essa é uma característica que, de um modo geral, tem sido observada na grande maioria dos países do mundo. Com exceção de algumas situações anômalas onde possa ter havido alguma ação excepcional que tenha modificado o "script" descrito a seguir - como, por exemplo, guerras que afetem um grupo populacional mais do que outro- o que se verifica na evolução do mundo no pós-guerra e se pode projetar para o futuro é a combinação sucessiva dos seguintes elementos:

1) inicialmente, verificaram-se taxas de natalidade altas e crescentes, em um contexto em que ainda se morria relativamente cedo, em média, com isso, reduzindo a idade média da população; e 2) com o passar dos anos, os avanços da medicina foram elevando a longevidade, enquanto que a educação e os métodos anticoncepcionais reduziram a fecundidade, com o que a idade média e mediana da população passaram a aumentar.

A grande diferença entre os países é apenas o "timing" do processo. Nos países desenvolvidos, essa história começou antes e hoje se trata de sociedades demograficamente maduras, enquanto que nos países menos desenvolvidos, as taxas de fecundidade e de mortalidade são maiores, o que torna esses fenômenos menos intensos. A tendência, porém, é a mesma.

A tabela que acompanha este artigo, extraída do meu livro com Paulo Tafner ("Demografia - A ameaça invisível", Editora Campus, Tabela 9.2) publicado há três anos e baseada nas projeções da Divisão de População da ONU, mostra o caráter universal dessas tendências. Note-se que em 2010 em todos os continentes a idade mediana era maior que em 1970. Note-se também a tendência à convergência: ainda no ano 2000, a idade mediana da América do Norte era 10 anos maior que na América do Sul, enquanto em 2050 projeta-se que seja a mesma.

Seria bom que alguém em Brasília se ocupasse desses desafios, ao invés de ficar pensando apenas na micropolítica do cotidiano. Um dia, em matéria de demografia, o Japão será aqui. Cedo ou tarde, teremos que pensar nisso.

Fabio Giambiagi, economista, coorganizador do livro "Economia Brasileira Contemporânea: 1945/2010" (Editora Campus), escreve mensalmente às quartas-feiras. fgiambia@terra.com.br.

Fonte: Valor Econômico - 09/01/2013