Desemprego baixo com PIB de 1%

O resultado é de fazer inveja à maior parte dos países ricos que hoje amargam desemprego de 8%, 10% e até mais - chegando a 26% na Espanha e na Grécia

José Pastore

A taxa de desemprego de dezembro de 2012 ficou em 4,6%. No ano de 2012, a média foi de 5,5%. O resultado é de fazer inveja à maior parte dos países ricos que hoje amargam desemprego de 8%, 10% e até mais - chegando a 26% na Espanha e na Grécia.

É intrigante que marcas tão baixas foram alcançadas numa quadra de desempenho tão fraco. O Produto Interno Bruto (PIB) de 2012 foi de apenas 1% e a geração de emprego formal chegou a apenas 1,3 milhão de postos de trabalho (dados do Caged) - o pior resultado dos últimos três anos e a metade do que foi gerado em 2010 (2,5 milhões de empregos). Na indústria, a situação foi pior: foram criados apenas 33 mil empregos, resultado 81% menor do que em 2011 e 93% menor do que em 2010. Na construção civil foram só 71 mil postos de trabalho, 52% menor do que em 2011 e 72% menor do que em 2010.

Como explicar taxas de desemprego tão baixas em face de resultados tão pífios?

Uma parte da explicação está no setor de serviços, que continuou sustentando a maior parte do crescimento do emprego em 2012, tendo gerado 666 mil postos de trabalho. Em seguida veio o comércio, com 372 mil postos. Ou seja, do 1,3 milhão de empregos gerados naquele ano, os dois setores responderam por 80% - ambos intensivos em mão de obra.

Essa, porém, é apenas uma parte da explicação. Outra, mais importante, refere-se às mudanças demográficas. A taxa de crescimento da população brasileira em 1990 foi de 1,8% ao ano. Em 2010, caiu para 0,9%. A taxa de fecundidade baixou de 2,8 filhos para 1,9. Em 2003, a população em idade de trabalhar cresceu 1,8%. Em 2011, cresceu apenas 1,2%. A proporção de jovens de 10 a 17 anos trabalhando caiu de 18% para 12% no período. A proporção de trabalhadores idosos (60 anos e mais) passou de 30% para 27%.

Juntando todos esses fatos, é fácil verificar que, em relação aos anos anteriores, a proporção das pessoas que procuram emprego é menor nos dias atuais. Muitos jovens estão adiando o trabalho por ficarem mais tempo na escola - o que é bom. Há, ainda, os que nem estudam nem trabalham porque vivem à custa dos pais ou do Bolsa-Família.

Além disso, os idosos (60 anos e mais) estão parando de trabalhar mais cedo, atraídos pela melhoria no valor das aposentadorias e pensões e dos vários programas de transferência de renda.

Ou seja, a pressão por emprego vem diminuindo na base e no topo da pirâmide etária. Toda vez que isso ocorre, a tendência da taxa de desemprego é cair. Isso explica em grande parte por que se teve apenas 5,5% de desocupados em ano em que o PIB e o emprego cresceram tão pouco - como em 2012.

O número de empregos gerados, apesar de menor do que no passado, foi suficiente para atender à demanda que encolheu. Em outras palavras, apesar de cadente, o crescimento do emprego está sendo maior do que o crescimento dos que procuram trabalhar. Um dos reflexos da falta de pretendentes (associada à falta de qualificação) é o aumento do salário e dos benefícios negociados.

A presidente Dilma Rousseff tem sorte em poder comemorar a redução do desemprego e o aumento da renda, como de fato o fez, efusivamente. Mas o Brasil não tem a mesma sorte. A sustentação dos idosos - que aumentam a ritmo acelerado - será um enorme desafio para a sociedade em poucos anos. A explosão do custo do trabalho serii uma contrapartida de ganhos de produtividade comprometerá a geração do emprego futuro. Sem as reformas da Previdência Social e do Sistema Único de Saúde e a melhoria da eficiência do trabalho, o colapso tem data marcada.

Bom seria comemorarmos a decisão efetiva de fazer as referidas reformas e alavancar a qualidade do ensino e os investimentos em inovação para melhorar a competitividade. Se isso tivesse sido feito há 20 anos - quando se começou a tratar do assunto -, não estaríamos correndo os riscos apontados.

* PROFESSOR DE RELAÇÕES DO TRABALHO DA FEA-USP, É MEMBRO DA ACADEMIA PAULISTA DE LETRAS

Fonte: O Estado de S.Paulo 12/02/2013