Para garantir a aposentadoria
Em um cenário que considera que as taxas básicas de juro na casa de um dígito vieram para ficar, os fundos de pensão se mexem para honrar compromissos de longo prazo. Como precisam pagar aposentadorias durante as próximas décadas e não podem mais contar com a rentabilidade - antes garantida e sem riscos - dos títulos públicos, gestores de fundações apostam em ativos da economia real para embolsar ganhos futuros. O destaque fica por conta dos setores imobiliário e de infraestrutura.
Uma das que seguem à risca essa estratégia de investimento é a Fundação dos Economiários Federais (Funcef). Responsável por administrar os planos de previdência complementar dos funcionários da Caixa Econômica Federal, o terceiro maior fundo de pensão do País investe 7,5% de seu patrimônio de mais de 50 bilhões de reais em imóveis. "Gostaríamos de aplicar bem mais nesse setor, que é seguro e tem nos trazido retornos consistentes ao longo dos anos, mas estamos impedidos por regulação", diz Carlos Alberto Caser, presidente da Funcef, ao lembrar que, pelas regras atuais, os fundos podem ter no máximo 8% de seu patrimônio vinculado a investimentos imobiliários. "Nossa avaliação é de que 10% seria um número razoável." A carteira de imóveis da fundação é diversificada: shopping centers, edifícios corporativos, galpões industriais, hotéis e agências bancárias alugadas para a própria Caixa.
O apetite da Funcef é ainda maior quando se trata de infraestrutura. Sócia da Invepar com outros dois poderosos fundos de pensão - a Caixa de Previdência dos Funcionários do Banco do Brasil (Previ) e a Petros (da Petrobras) já investe 5,5 bilhões de reais, 11% do patrimônio, em projetos do setor. Outros 2 bilhões de reais devem ser desembolsados até 2017.
O fundo integrou os consórcios que venceram as licitações de exploração do aeroporto internacional de São Paulo (Cumbica), em Guarulhos, e da construção da usina hidrelétrica Belo Monte. "Temos todo o interesse em participar dos diversos projetos de infraestrutura que virão pela frente. Estamos atentos aos editais de exploração de portos, rodovias, ferrovias, novas hidrelétricas e até mesmo do trem-bala. Nesse último não integraremos um consórcio, mas podemos entrar em um estágio posterior", observa Caser. O fundo gostaria, ainda, de disputar os leilões dos aeroportos de Confins, em Minas Gerais, e Galeão, no Rio de Janeiro. Entretanto, o edital deve vetar a participação, pelo fato de a Funcef integrar o consórcio que ganhou a licitação para operar em Cumbica.
A Previ, maior fundo de pensão da América Latina, também tem motivos de sobra para comemorar sua opção por investir pesado em imóveis. Nos últimos 36 meses (encerrados em novembro), a carteira imobiliária de um de seus planos de previdência rendeu 112,53%, superando em muito a meta atuarial, equivalente a 38,78% no mesmo período. A fundação, que aplica 8 bilhões de reais - 5% de seu patrimônio - em imóveis, também quer alterações na regra para investir mais. O fundo sugere que investimentos no segmento sejam equiparados àqueles feitos em ativos indexados à inflação. "Há pouca diferença entre receber aluguéis de um imóvel ou receber pedágios de uma rodovia. Ambos são indexados pela inflação, rendem um pouco acima da renda fixa tradicional, mas têm risco muito inferior ao mercado acionário", afirma a Previ em nota.
Embora invista mais de 4% de seu patrimônio e veja com bons olhos o segmento imobiliário, no momento a Petros concentra suas atenções em infraestrutura. Em especial nos segmentos de energia, saneamento e óleo e gás. "Em termos práticos, os desembolsos com investimentos nesses setores ocorrem nos primeiros anos. Após essa fase inicial, dada a pouca necessidade de atualização tecnológica e baixa concorrência de mercado, as receitas são contínuas para os investidores", afirma Carlos Costa, diretor de investimentos da fundação.
No setor de infraestrutura, o fundo de pensão dos funcionários da Petrobras detém 20% das ações da Sete Brasil. A empresa foi criada em 2011 com a missão de administrar a construção e a operação de sondas que perfuram poços para a estatal.
Assim como os bancos, os gestores também demonstram interesse em investir na aquisição de debêntures de infraestrutura. Esse movimento deverá ser gradual. "Acompanhamos de perto as operações e avaliamos caso a caso, considerando as taxas de retorno, que vêm caindo bastante, além do segmento e os riscos. Temos mais simpatia por rodovias e projetos já "perfor- mados", de empresas com bom histórico", diz Jorge Simino, diretor de investimentos da Fundação Cesp.
Fonte: Carta Capital - 16/02/2013