Brasileiros poupam só meia aposentadoria, diz estudo
Por Sérgio Tauhata | De São Paulo
Na cabeça do brasileiro, aposentadoria é um assunto subestimado, do tipo que pode ser deixado para depois. No entanto, esse adiamento, conforme mostra o estudo "O Futuro da Aposentadoria - Uma Nova Realidade", do HSBC, cobrará um preço alto: os valores poupados vão durar pouco mais da metade do necessário para toda a vida pós-trabalho. E este cálculo foi feito pelos próprios pesquisados, que estimam em apenas 12 anos a duração dos recursos guardados, contra uma expectativa de vida de mais 23 anos após se retirar da profissão.
Para o superintendente executivo de gestão de patrimônio do HSBC, Gilberto Poso, "a diferença entre a percepção de quanto vai se viver quando aposentado e o quanto se espera que o dinheiro dure mostra o brasileiro menos preparado que em outras regiões do mundo". No Brasil, o período apontado na pesquisa, de 11 anos, é 37% maior que a média global, de 8 anos.
Os resultados do levantamento do HSBC, feito com 15 mil pessoas em 15 países, entre os quais mais de mil entrevistados no Brasil, revela um futuro pouco tranquilo aos trabalhadores brasileiros. Quase dois terços, ou seja, 64% dos entrevistados, nunca poupou para a aposentadoria. E 69% da faixa de 45 a 54 anos ainda não guardou nenhum centavo para garantir o futuro. Entre aqueles que já começaram, nada menos que 59% avaliam como inadequada sua preparação.
O estudo reforça ainda a percepção de que as fichas do aumento da longevidade e da rentabilidade menor das aplicações de renda fixa ainda não caíram para a maioria. De acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), a expectativa de vida aumentou 3,65 anos na última década, o que mostra uma aceleração da tendência histórica. A tábua atuarial BR-EMS, um conjunto de dados estatísticos usados pela maioria das seguradoras no país para o cálculo de renda vitalícia na aposentadoria, indica que, em média, homens vivem até os 86,4 anos e as mulheres até os 89,7 anos no Brasil.
Portanto, as profissionais que parassem de trabalhar aos 55 anos teriam de ter recursos guardados para prover quase 35 anos sem salário, enquanto trabalhadores masculinos na mesma condição ainda viveriam pouco mais de três décadas. Para "caber" na expectativa de 23 anos indicada na pesquisa, as mulheres só poderiam parar aos 67 anos, enquanto os homens teriam de trabalhar até 63 anos.
No cenário atual, de queda dos juros reais (após descontar a inflação), o tempo de acumulação também deve ser esticado para o poupador assegurar a mesma renda, se não pretende aumentar o valor da contribuição. Em alguns casos, esse intervalo extra pode chegar a mais de 15 anos, comparada à situação até 2009, quando o retorno real alcançava mais de 6% ao ano.
Na avaliação de Poso, apesar do quadro desafiador, o levantamento do HSBC revela que existe uma cultura de curto prazo no país, focada em satisfação mais imediata das necessidades. Um dado do estudo reforça essa ideia: segundo a pesquisa, 49% dos brasileiros preferem poupar para férias do que guardar o dinheiro para aposentadoria.
"Há um pensamento influenciado pelo consumo no Brasil, mas existe também um histórico de confiar ou esperar que o Estado vá prover seus recursos na aposentadoria", afirma Poso. O estudo indica que, no Brasil, 31% consideram a previdência pública como fonte de renda essencial na aposentadoria. Os entrevistados esperam do INSS quase um terço da renda total no futuro.
A tendência de contar com o INSS como fonte de proventos cresce ainda conforme a idade. "As pessoas mais velhas têm ainda mais forte essa cultura da previdência pública." Na faixa etária de 25 a 34 anos o percentual alcança 28%. E chega a 37% entre os entrevistados de 45 a 54 anos.
A pesquisa mostrou também que o planejamento financeiro e a consultoria profissional levam efetivamente as pessoas a poupar mais. A partir do momento em que começaram a se programar com ajuda de profissionais ou por conta própria, 42% passaram a poupar mais. Entre aqueles que tiveram assessoria especializada, esse número chegou a 58%. "Nós estamos, nesse sentido, alinhados com a média global, que foi de 44%", afirma Poso.
Na análise, do superintendente de gestão do patrimônio do HSBC, a pesquisa revela que as pessoas reconhecem a importância de fazer um planejamento como forma de aumentar a propensão a poupar mais. "Isso acontece porque a pessoa coloca sob perspectiva e pensa no que é importante para o futuro", diz.
Segundo o estudo, o medo de dificuldades financeiras é o principal motivo para planejar a aposentadoria: 45% apontaram esse receio. E 22% declararam querer poupar porque percebem uma baixa qualidade de vida de familiares já aposentados.
Valor Econômico - 21/02/2013