Mantega tenta atrair investidor para plano de US$ 235 bilhões

Em viagem a Nova York, ministro busca recursos para o pacote de concessões na área de infraestrutura

Gustavo Chacra
Correspondente/ Nova York

Diante de questionamentos sobre o risco de aumento da inflação no Brasil e em busca de atrair recursos financeiros estrangeiros, o ministro da Fazenda, Guido Mantega, apresentou a investidores de Wall Street um gigantesco plano de US$ 235 bilhões em concessões na área de infraestrutura nos próximos anos.

No mais ambicioso plano das últimas décadas, com um rendimento para os investidores estimado em 10% ao ano, o governo brasileiro, segundo Mantega, prevê a construção de 7,5 mil km de rodovias, 10 mil km de ferrovias, um trem de alta velocidade e dois grandes aeroportos internacionais, além de concessões nas áreas de gás e eletricidade.

"Estamos criando uma estrutura de financiamento muito favorável a essas concessões que estamos apresentando. Esse projeto poderá ser financiado pelos bancos públicos, como BNDES, Caixa e Banco do Brasil, e também pelos bancos privados, que precisam participar", disse o ministro brasileiro, que estava ao lado do presidente do BNDES, Luciano Coutinho, e de outros membros do governo.

Segundo Mantega, o ideal seria que viessem fundos de pensão do exterior para se juntarem a esses grandes projetos. Falamos de um financiamento muito grande, de US$ 235 bilhões, e não temos condições financeiras para dar conta disso". "Por esse motivo, é preciso que venham recursos do exterior, e a vinda deles será facilitada."

Para convencer os estrangeiros, Mantega disse que o Brasil tem "segurança e rentabilidade" com regras claras e contratos que têm sido respeitados "pelo menos desde 2003". Alguns analistas o questionaram sobre recentes ruídos envolvendo a quebra de contratos na área de energia. O ministro disse que não houve problema e os casos seriam de renovação de contratos.

Mantega afirmou que o retorno nos investimentos é estimado em "10% reais ao ano", sem entrar em detalhes. As poucas restrições a remessas de lucros e ingresso de capital também foram citadas como motivos para investir no País. Os investidores demonstraram preocupação com quatro pontos. Primeiro, a ausência de projetos de educação. Mantega respondeu argumentando que o Ministério da Educação possui a maior verba do governo. Em segundo lugar, a ausência de menções ao meio ambiente. O ministro rebateu dizendo a legislação ambiental brasileira é rigorosa. No caso da energia, que seria o terceiro ponto, ele disse não haver problema de falta de eletricidade no País.

A questão mais importante levantada pelos investidores e que tem sido uma constante na visita do ministro e também do presidente do Banco Central, Alexandre Tombini, a Nova York, envolve a inflação, que subiu em janeiro. Mantega argumentou que já existe um "monitoramento rigoroso da inflação", que teria recuado na medição do IPCA da FGV.

A elevação recente, de acordo com o ministro, se deveu "a choques" na área de commodities. Os preços dos alimentos, segundo ele, se estabilizam com a nova safra. No caso da gasolina, diz Mantega, a Petrobras "busca um preço médio". Assim, dependendo do valor do câmbio e do preço do petróleo, pode subir ou cair.

Mantega também disse que o Brasil não enfrenta problemas com gastos da previdência e pagamentos do funcionalismo e da dívida pública. O governo, segundo o ministro, deve anunciar um superávit primário de US$ 26,1 bilhões em janeiro, que equivale a 24% do previsto para 2013. O mercado consumidor do Brasil, em 2020, disse Mantega citando dados da McKinsey, "será o quinto maior do mundo", atrás de EUA, China, Japão e Alemanha.

Fonte: O Estado de S.Paulo - 27/02/2013