Brasil obriga aposentado a trabalhar mais 7 anos

Brasileiro continua no batente para complementar a baixa renda garantida pelo INSS

Estudo do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) mostra que os homens brasileiros que se aposentam por tempo de contribuição continuam trabalhando, em média, durante mais 7,3 anos. Já as mulheres aposentadas na mesma circunstância permanecem na ativa por um prazo médio de 5,4 anos. A pesquisa constatou ainda, com base em dados de 2010, que os homens passaram a receber o benefício por tempo de contribuição aos 55,1 anos, em média, usufruindo dele por 24,6 anos. As mulheres, por sua vez, se aposentaram aos 52,7 anos, recebendo da previdência por um período médio de 31,3 anos.

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Difícil se aposentar e pendurar a chuteira

Brasileiros são obrigados a continuar na ativa por mais de sete anos, em média, para completar o benefício do INSS
Paulo Henrique Lobato

Fernando Henrique não gosta de ficar parado e precisa permanecer no mercado porque o dinheiro pago pela previdência é insuficiente

Aposentado há uma década e meia, Fernando Henrique Soares, de 74 anos, continua como vendedor na Casa Cabana, uma tradicional loja de chapéus e acessórios no Centro de Belo Horizonte, por dois motivos: complementar a baixa renda garantida pelo Instituto Nacional de Seguridade Social (INSS) e porque avalia que ainda tem muita disposição para contribuir com a economia do país. "O benefício recebido do INSS corresponde a pouco mais de um salário mínimo (R$ 678). Preciso, portanto, permanecer na ativa. E também não gosto de ficar parado", reforçou o homem, cuja história ajuda a ilustrar um estudo divulgado ontem pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea).

Batizada de Envelhecimento populacional, perda de capacidade laborativa e políticas públicas, a pesquisa constatou que os homens brasileiros que recebem a aposentadoria por tempo de contribuição podem "esperar passar", em média, mais sete anos e três meses trabalhando. No caso das mulheres, cinco anos e quatro meses. Em outras palavras, as autoras do texto – Ana Amélia Camarano, técnica de planejamento e pesquisa da Diretoria de Estudos e Políticas Sociais do Ipea, e as bolsistas Solange Kanso e Daniele Fernandes – concluíram que "os trabalhadores brasileiros começam a receber o benefício da Seguridade Social antes de perderem a capacidade de trabalhar".

Atualmente, o trabalhador se aposenta por tempo de contribuição (35 anos para homens e 30 para mulheres) ou por idade (65 anos para eles e 60 para elas, desde que, independentemente do sexo, tenham contribuído com o INSS por pelo menos uma década e meia). As pesquisadoras do Ipea basearam o estudo em dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), como a tábua da vida, que mede a expectativa do brasileiro ao nascer. Em 2011, a dos homens era de 70,6 anos. A das mulheres, 77,7 anos.

Porém, os homens que passaram a receber o benefício por tempo de contribuição, segundo dados de 2010, se aposentaram aos 55,1 anos e o utilizaram, em média, por 24,6 anos. As mulheres se aposentaram, em média, aos 52,7 anos, recebendo o benefício por 31,3 anos. "Considerando que o aumento da esperança de vida tem sido acompanhado por melhorias nas condições de saúde, e diante da preocupação com o envelhecimento ativo e a redução no futuro próximo da oferta de força de trabalho, seria importante criar políticas para manter o trabalhador na ativa o maior número de anos possível", avaliaram as pesquisadoras no texto divulgado ontem.

Enquanto isso...

...sem interferência do PIB baixo

A alta de apenas 0,9% do Produto Interno Bruto (PIB) do Brasil no ano passado não refletiu na geração de emprego. Segundo o Boletim de Mercado de Trabalho do Ipea, em 2012 houve a criação de vagas, queda da informalidade e melhoria dos salários. No ano passado, o desemprego apresentou a sua menor média anual, 5,5%, e a tendência de queda continuada ficou clara em dezembro, quando a taxa ficou em 4,6%. Apesar de ter havido um contingente maior de pessoas disponíveis no mercado de trabalho no último mês de 2012 frente a igual período de 2011, o desemprego não aumentou.

Fonte: O Estado de Minas - 05/03/2013