A difícil tarefa de guardar dinheiro para a aposentadoria

Pesquisa mostra que brasileiro poupa menos do que deveria para viver bem quando parar de trabalhar

João Sorima Neto

SÃO PAULO Os brasileiros estão poupando menos do que deveriam para sua aposentadoria, têm consciência disso, mas ainda assim preferem gastar o dinheiro em férias do que reforçar o caixa para a época em que não tiverem mais a renda do trabalho. Estas são algumas das principais conclusões do levantamento "O Futuro da Aposentadoria", uma ampla pesquisa sobre o tema feita pelo banco HSBC.

O estudo apontou que 19% dos entrevistados nem se preparam para ter uma renda extra à do INSS, a previdência oficial, que paga, em média, pensões de R$ 803. O dado que mais chamou a atenção, entre os brasileiros que guardam dinheiro, é que eles poupam metade do que precisam para ter uma aposentadoria confortável. Segundo a pesquisa do HSBC, os entrevistados esperam viver 23 anos após pararem de trabalhar, mas suas economias só vão durar 12 anos.

- É um déficit maior do que a média mundial, onde os entrevistados poupam para dez anos de aposentadoria, mas esperam viver 18 anos depois de parar de trabalhar - avalia Gilberto Poso, superintendente de gestão do patrimônio do HSBC.

Os especialistas em finanças pessoais apontam várias razões para esse déficit maior por aqui. Uma parte desses poupadores começou a guardar dinheiro só aos 40 anos. Com o crescimento da expectativa de vida média do brasileiro de 66 anos, em 1990, para os atuais 74, criou-se esse problema.

- O brasileiro começa a poupar muito tarde. Por isso, não consegue acumular o patrimônio necessário para garantir rendimentos expressivos até o final da vida - diagnostica Mauro Calil, educador financeiro.

A relações públicas Sulei Godoy, de 55 anos, sempre esperou receber o teto da aposentadoria do INSS, que hoje é de R$ 4 mil. Aposentou-se e sua pensão é de apenas R$ 1.100. Só foi pensar em ter uma previdência aos 40 anos.

- Comecei com uma previdência privada, mas vi que teria pouco retorno. Montei uma pousada e hoje também continuo trabalhando para manter meu padrão de vida - diz ela.

O presidente do Instituto DSOP de Educação Financeira, Reinaldo Domingos, estima que apenas 1% dos brasileiros consegue manter o mesmo padrão de vida após a aposentadoria.

- Um erro de cálculo leva as pessoas a pouparem menos do que precisam para a aposentadoria - diz Domingos.

Ele cita como exemplo uma pessoa que ganha R$ 5 mil de salário. Na aposentadoria, ela receberá R$ 2 mil do INSS e terá que complementar a renda com mais R$ 3 mil para igualar o salário da ativa. Para isso, contrata um plano de previdência privada (PGBL ou VGBL). Mas tem como objetivo acumular recursos para receber os R$ 3 mil que vão faltar. Reinaldo Domingos diz que isso é um erro clássico. Na verdade, ela deveria pensar em acumular recursos para ter uma renda extra de R$ 6 mil:

- Ela então saca R$ 3 mil, complementa sua renda, e reaplica os R$ 3 mil restantes, que se capitalizam e garantem a mesma renda até o fim da vida. Se só tiver R$ 3 mil para retirar da aplicação principal, e nada para reaplicar, essa previdência privada vai acabar muito rápido.

Começar a poupar cedo é o mais indicado, mas começar aos 40 anos não é o fim do mundo, dizem os especialistas. A questão é que, quanto menos tempo de acumulação de renda, maior é a necessidade de desembolso mensal. Segundo cálculos do consultor financeiro Miguel Ribeiro de Oliveira, uma pessoa de 20 anos que começa uma previdência privada para ter uma renda complementar de R$ 3 mil, precisa desembolsar R$ 483,61 todo mês:

- Já uma pessoa de 40 anos terá que começar com uma contribuição de R$ 2.034,62 para ter a mesma renda, considerando uma rentabilidade constante de 6% ao ano - explica Oliveira.

Uma pesquisa da BrasilPrev mostrou que o valor médio de aplicação mensal nos seus planos de previdência privada é de R$ 274. Com esse valor, para ter os mesmos R$ 3 mil de renda extra, a pessoa teria que começar a aplicar numa previdência privada aos 11 anos de idade, considerando rentabilidade de 6% ao ano, calcula Miguel Ribeiro de Oliveira.

O administrador Fernando Sasaoka, de 36 anos, começou a pensar na aposentadoria aos 19 anos. Primeiro poupou nos tradicionais planos de previdência, PGBL e VGBL. Mas depois descobriu que poderia ter rendimento melhor e se aposentar mais cedo aplicando em produtos como Tesouro Direto, Letras de Câmbio Imobiliário (LCI) e fundos atrelados à inflação.

- Em vez de aplicar em fundos de investimento, pagando taxas de administração, compro os títulos no Tesouro Direto, sem taxa nenhuma - afirma Sasaoka, que espera se aposentar quando tiver um rendimento igual a três vezes seu salário atual.

Na média, a pesquisa do HSBC apontou que o brasileiro quer ter como renda o equivalente a 70% do seu salário na aposentadoria.

Fonte: O Globo - 11/03/2013