Pensão, sombra e água fresca
Por Andrea Assef
A ascensão de uma grande parcela de consumidores para a classe média e a estabilidade econômica são consideradas os principais motivos para o crescimento a todo vapor do mercado de previdência complementar. No ano passado, o setor faturou R$ 70,4 bilhões, um aumento de 31,5% em relação a 2011, de acordo com a Federação Nacional de Previdência Privada e Vida (Fenaprevi). Foi o maior aumento de recursos desde 2004. "A previdência só cresce quando o consumidor acredita na poupança de longo prazo", afirma Osvaldo Nascimento, presidente da Fenaprevi. Com a queda dos juros, as empresas agora se preparam para alinhar seus produtos à nova realidade da economia brasileira.
O Conselho Monetário Nacional publicou recentemente a Resolução 4.176, que dispõe sobre o prazo médio para carteira de renda fixa dos fundos de previdência complementar aberta, que inclui os planos do tipo PGBL (Plano Gerador de Benefício Livre) e VGBL (Vida Gerador de Benefício Livre). O objetivo é promover a substituição das carteiras de investimentos vinculadas às taxas de juros de um dia (DI/Selic) pelas de médio e longo prazo, mais adequadas ao perfil dos fundos de previdência complementar. De acordo com a resolução, as seguradoras e entidades de previdência complementar terão até três anos para adaptar suas carteiras de investimentos.
"Essa resolução flexibiliza a criação de mais produtos voltados para o cenário de juros baixos", afirma Nascimento. De acordo com ele, a medida pretende, entre outras coisas, evitar que ocorra no Brasil o mesmo que aconteceu nos Estados Unidos durante a crise das hipotecas (subprime), em 2007, quando os idosos perderam suas aposentadorias porque seus investimentos estavam alavancados em títulos podres. "É muito importante que o investimento esteja adequado ao perfil de cada um", afirma Nascimento. De olho nas mudanças exigidas pelo governo para o ambiente atual de juros baixos, a BrasilPrev, com mais de 1,6 milhão de clientes, lançou um novo portfólio de produtos com foco na fidelização, que proporciona taxas menores ao cliente à medida que evolui sua reserva, e ajustadas ao novo momento econômico.
Por exemplo, o capital do pecúlio é ajustado ao ritmo em que cresce a reserva. O conceito de pecúlio com capital decrescente funciona assim: o cliente contrata um plano com mensalidade adequada ao seu orçamento, e é feita a conta do valor do patrimônio que ele terá acumulado até o momento da concretização de seu projeto. "Caso o titular do plano venha a faltar, o seu beneficiário recebe esse valor calculado no presente. E o interessante é que, quanto mais a reserva cresce no decorrer do tempo, menor é o valor pago na mensalidade do seguro", explica Altair César de Jesus, superintendente de investimento da BrasilPrev. Nos últimos 20 anos, o mercado de previdência saiu de R$ 3 bilhões em reservas para R$ 338 bilhões, com uma taxa de crescimento anual entre 20% e 30%.
Para manter esse ritmo, o setor terá de se acostumar a ficar sem a rotatividade dos papéis e alongar as carteiras das empresas. A queda da taxa de juros traz um grande desafio para os gestores: obter retornos suficientes para os fundos atingirem suas metas de rentabilidade. Segundo Lúcio Flávio de Oliveira, presidente da Bradesco Vida e Previdência e também vice-presidente da Fenaprevi, isso faz todo o sentido no momento econômico atual. "É um movimento que reforça o conceito de previdência que só se justifica no longo prazo", afirma Oliveira. A Bradesco Vida e Previdência, que conta com 2,3 milhões de participantes nos planos de previdência e VGBL, já se prepara para a realidade atual do mercado. "Isso mexe com muita coisa, a partir da forma de se comunicar com o cliente que vai demandar uma oferta mais qualificada", diz Oliveira.
Fonte: Isto É Dinheiro - 30/03/2013