Juros baixos tornam cara a aposentadoria

Planos de previdência privada estão cada vez menos rentáveis — em alguns casos, perdem para a inflação. Com a Selic fixada em 7,5% ao ano, diversos bancos cobram taxas que chegam a 4,5%

Juros baixos revelam alto custo dos planos

Selic em 7,5% ao ano evidencia o peso das taxas cobradas pelos bancos. Cliente que faz contribuições pequenas é o mais prejudicado

ANA D"ANGELO

Em tempos de juros básicos da economia em 7,5% ao ano, está cada vez mais difícil para o brasileiro garantir a sonhada aposentadoria por meio dos planos de previdência privada. É preciso poupar bem mais para receber o mesmo valor previsto anos atrás, quando a taxa Selic andava na casa dos dois dígitos. O cenário atual escancarou como os trabalhadores estão pagando caro para manter um desses planos. O rendimento real fica, em alguns casos, abaixo da inflação.

O custo é mais alto nos bancos que trabalham com a chamada taxa de carregamento, caso de Bradesco, ItaúUnibanco, HSBC e Santander, líderes do segmento. Essa cobrança representa um abatimento no ato do depósito, que, no início, chega a 4,5%. Assim, nos primeiros 12 ou 15 meses de aplicação, o poupador verá as economias diminuírem, em vez de aumentarem.

Com taxa de carregamento nesses patamares, não há rendimento mensal suficiente para cobrir os custos. Em uma aplicação que renda 0,5% bruto ao mês, por exemplo, performance considerada boa atualmente, o menor desse encargo já engole o ganho do mês. Pior ainda é a situação de quem arca com uma mordida de 4,5%.

“Os custos dos planos de previdência comprometem a rentabilidade de forma substancial. Se a pessoa aplica R$ 1 mil, já começa com R$ 955 (no caso de carregamento de 4,5%), e levará um tempo para recuperar esse valor”, ilustra o diretor de Gestão de Recursos de Terceiros da corretora Ativa, Arnaldo Augusto Curvello. Os abatimentos só recuam conforme, ao longo dos anos, o cliente atinja montante maior. Ou seja, paga mais quem tem menos para poupar — saldo, em geral, de até R$ 50 mil.

Despesa administrativa
O cenário complica ainda mais porque os titulares de planos de previdência têm de desembolsar a taxa de administração dos fundos de investimento responsáveis pelos recursos depositados. Esse índice, que chega a 3% ao ano, é maior para quem poupa menos, e afeta diretamente a rentabilidade das aplicações.

Mesmo para saldos entre R$ 100 mil e R$ 500 mil, essa cobrança gira em torno de 2% ao ano (cobrada proporcionalmente todos os dias). Somente montantes acima de R$ 800 mil envolvem custo de administração menor, de 0,8%. É por essa razão que alguns fundos de renda fixa estão rendendo 0,38% ao mês, enquanto outros alcançam 0,6%.

“Os juros baixos revelam, entre outras coisas, o alto custo das taxas de carregamento e de administração. Muitas pessoas olham o saldo e verificam, após seis meses ou um ano, que têm menos do que aportaram. Os planos de previdência têm o desafio de entregarem rentabilidade para quem contribui e para os bancos”, analisa o professor e educador financeiro Mauro Calil.

A Caixa Econômica Federal aboliu a cobrança de taxa de carregamento dos planos de aposentadoria. O Banco do Brasil cobra o encargo somente se o poupador permanecer menos de seis anos no plano. O desconto diminui quanto maior for o tempo em que o trabalhador permanece contribuindo. E a cobrança não ocorre no ato da aplicação mensal, mas, sim, quando houver resgate em até seis anos.

Efeito psicológico
Para especialistas, a adesão ao plano de previdência tem caráter psicológico, já que a pessoa paga mais ao banco para obrigá-la a poupar. “Para quem não tem disciplina, é o único jeito. Mas tem de estar ciente que pode sair mais caro”, pondera Calil. Esses planos, lembra o educador financeiro, também cobram outra taxa — chamada de saída — caso o cliente desista e queira resgatar valores aplicados antes do prazo determinado. “Isso desestimula a desistência”, comenta.

Sobre o assunto, Calil não tem dúvidas: “Se a pessoa tiver o mínimo de disciplina e preocupação com o futuro, vai estabelecer um plano do tipo ‘faça você mesmo’ e vai acabar poupando de algum jeito. E ainda terá resultados semelhantes ou melhores que os da previdência, com custos menores”.

O presidente da Federação Nacional de previdência Privada e Vida (FenaPrevi), Osvaldo Nascimento, também diretor da Itaú Vida e previdência, admite que os fundos do setor rendem como os demais oferecidos pelo mercado. “A rentabilidade se assemelha entre aqueles que aplicam os recursos da mesma forma”, diz o executivo. Mas ele faz questão de destacar que os planos de previdência resultam em ganho líquido maior, por conta da vantagem tributária.

Esse atrativo, porém, só vale para quem permanece, no mínimo, oito anos no plano. Caso desista antes desse prazo, a mordida do Imposto de Renda será superior àquela que incidiria sobre os fundos de investimento tradicionais (veja quadro acima). O dirigente da FenaPrevi, representante de 22 seguradoras e 13 entidades abertas de previdência complementar, lembra que os fundos desses planos estão livres do chamado come-cotas: a antecipação do IR de 15% sobre os rendimentos a cada seis meses. Essa cobrança incide sobre outros fundos mesmo não havendo resgate.

Ao longo prazo, essa diferenciação dá uma certa vantagem aos fundos de previdência, porque os rendimentos dos meses seguintes incidem sobre um valor acumulado sem o desconto de IR, que ocorrerá somente no ato do resgate. No entanto, nos planos com taxa de carregamento, essa vantagem pode ser engolida, sobretudo em época de juros baixos.

Como alternativa na busca de melhor rendimento, os clientes de bancos privados podem pleitear custos de carregamento menores. As taxas de administração podem ser negociadas inclusive na Caixa e no BB.

Fonte: Correio Braziliense - 06/05/2013