Relativizando algumas projeções de poupança para a aposentadoria
Por Linda Stern | Da Reuters
Apenas habitantes das cavernas perderam o "boom" dos estudos de planejamento de aposentadoria [nos Estados Unidos]: o que parece um bombardeio diário de pesquisas e folhetos explicativos financiados pelo setor apontando para uma população em processo de envelhecimento e tão pateticamente despreparada que terá de trabalhar até os 90 anos, trazendo de casa ração de gatos para o almoço.
Agora, um desses novos estudos, de uma empresa de investimentos respeitável e focada em dados, está aliviando parte da pressão sofrida por pessoas que podem estar alarmadas com a possibilidade de não conseguirem poupar o suficiente.
"As taxas de poupança que mostramos (como necessárias para a aposentadoria) são praticáveis", disse Marlena Lee, a pesquisadora responsável pelo estudo, encomendado pela Dimensional Fund Advisors, uma empresa do Texas conhecida por suas baixas tarifas e enfoque altamente analítico na criação de fundos mútuos.
Para entender a pesquisa de Marlena, tem-se de entender as contas que estão por trás do planejamento para a aposentadoria. O básico é: uma pessoa em fase de pré-aposentadoria deve estimar qual será a renda anual de que precisará como aposentada, subtrair a renda projetada da Social Security (o sistema de previdência social americano, equivalente à Previdência Social brasileira) e de pensões, e adotar como meta acumular cerca de 20 a 25 vezes o valor do saldo até se aposentar. Essa é uma maneira conservadora de garantir que a pessoa poderá sacar 4% ao ano (mais um índice de correção monetária) de sua carteira todo ano, sem ficar sem dinheiro no decorrer de um longo período de aposentadoria.
Normalmente, os estudos sobre aposentadoria estimam, grosso modo, o valor de que você precisará ao determinar qual é o percentual de seu último salário que você terá de repor. A taxa de reposição é muitas vezes o alarmante percentual de 75% ou 80% - o que resulta numa cifra capaz de fazer os que se preparam para se aposentar pôr as mãos na cabeça em desespero e jogar para cima os comprovantes dos planos de previdência privada com contribuição do empregado e do empregador.
A pesquisa de Marlena menospreza essa cifra, substituindo-a por dados verdadeiros sobre gastos na aposentadoria. Ela observa que, quanto mais você ganha, menor terá de ser sua taxa de reposição, devido a itens individuais como altos impostos por ano trabalhado que desaparecem na aposentadoria dos que ganham salários elevados. Quanto menos você ganhar, e quanto maior for a possível taxa de reposição, maior será a parcela dessa reposição a ser coberta pela Social Security. Isso é boa notícia para ambos os grupos.
Só os que compõem o quartil mais baixo em termos de renda - os que ganham menos que US$ 26 mil ao ano - são os que precisarão de até 82% de sua renda do período da ativa para viver confortavelmente como aposentados. A Social Security vai repor o grosso desse percentual, deixando a esse grupo a tarefa de repor 23% de seu último salário - um máximo de US$ 7.280 ao ano a partir do dinheiro poupado - sem qualquer futuro aperto de cintos.
Na época em que estiver ganhando uma renda anual de US$ 50 mil a US$ 87 mil, você precisará apenas de 62% do seu último salário para sobreviver, e a Social Security vai contribuir com metade disso. A faixa mais alta de rendimentos precisará de 58% da renda. Desse percentual a Social Security cobrirá 21%, deixando 37% a ser reposto por meio de poupanças, pensões ou redução de custos, segundo a pesquisa de Marlena.
Tudo isso significa que o total da poupança necessária é menor do que você pode ter previsto. Os cálculos conservadores de Marlena sugerem que, para ter 90% de certeza de cobrir uma taxa de reposição de 40%, os que ganham pouco e começam a contribuir cedo precisarão economizar 5,3%, e os grupos de rendimento maior, 12,8% de seus salários, em termos anuais.
Mas a maioria das pessoas provavelmente não precisaria economizar tudo isso porque: 1) ninguém no estudo de Marlena acaba precisando de uma taxa de reposição tão alta quanto 40%; 2) ela usa um modelo de alocação conservador em ações/bônus que resulta no controle, pelos investidores, de grandes quantidades de bônus, de menor retorno, em vez de ações, de maior retorno, na medida em que vão ficando mais velhos; 3) ela usa estimativas conservadoras dos retornos das ações e dos bônus; e 4) ela não está contando com a contribuição do empregador nos planos de previdência privada nem com quaisquer outras fontes de poupança ou renda de aposentadoria. Um investidor poderá compensar um déficit de poupança ao investir um maior percentual em ações - ou ao ganhar mais com elas - do que o valor pressuposto por Marlena.
A conclusão para os trabalhadores não é desistir de poupar, é claro. Quanto mais dinheiro você tiver quando deixar de trabalhar, mais fácil será sua vida ao se aposentar - e ninguém sabe precisamente quanto os gastos com assistência médica poderão consumir no futuro, já que os custos médicos muitas vezes sobem mais rapidamente que o total da inflação. No ano passado, os custos com assistência médica nos Estados Unidos subiram 3,58%, segundo o Departamento do Trabalho.
A outra lição importante para quem se prepara para se aposentar é se preocupar menos com os estudos que assustam (como um recente, da assessoria em aposentadoria National Institute for Retirement Security, sem fins lucrativos, que mostrou que normalmente a família "perto da aposentadoria" tinha apenas US$ 12 mil em poupança, mas excluía outros ativos da família e não corrigia por nível de renda). Pense, em vez disso, nas particularidades de sua própria situação.
Avalie quanto você vai gastar, de fato, como aposentado com base na alíquota de pagamento de impostos incidente sobre a sua faixa de renda e em seu próprio estilo de vida, em vez de introduzir uma taxa de reposição. Leve em consideração quaisquer heranças, pensões, contrapartidas da empresa e alta de salários na medida em que sua idade avança. Marlena sugere que trabalhadores mais jovens, de rendimentos mais baixos, podem economizar menos para começar e compensar o baixo valor posteriormente, na medida em que sua renda aumentar.
"Algumas orientações podem pecar pelo excesso de simplificação", disse Marlena. "O foco da nossa pesquisa foi calcular, a partir de todas essas partes variáveis, quais são as importantes a levar em consideração." Sua própria renda determina quanto você pode se dar ao luxo de economizar. Isso, no fim das contas, é fundamental.
Linda Stern é colunista da Reuters. (As ideias expressas neste artigo refletem unicamente os pontos de vista da autora.)
Fonte: Valor Econômico - 09/07/2013