Chineses seguem poupando em vez de gastar mais, como quer Pequim
Por Dexter Roberts | Bloomberg Businessweek
O advogado Kevin Han, de 27 anos, é frugal. Seu café da manhã custa 5 yuan (pouco menos de US$ 1, que é cotado a 6,13 yuans) e é composto de uma xícara de leite de soja e um ovo duro ou um pão chinês cozido no vapor. Ele almoça arroz branco, com pequenas porções de carne e verdura, por 20 yuans no refeitório de seu local de trabalho em Pequim. Gasta mais ou menos a mesma quantia para jantar. Han consegue boas ofertas comprando roupas online, mora num apartamento barato e toma o metrô para ir trabalhar (4 yuans ida e volta).
Ser econômico é uma necessidade se ele quiser comprar a sua casa própria. Ele diz que economiza cerca de metade de seu salário líquido de 13 mil yuans. "Quero me casar e ter um filho, e isso vai custar muito dinheiro. Meus pais não são ricos. Por isso tenho de fazer toda a economia por conta própria."
Os dirigentes chineses querem que esses superpoupadores, como Han, passem a tirar dinheiro do bolso e a impulsionar uma economia em desaceleração.
Os chineses, em média, poupam 30,6% de sua renda disponível, o que somou 6,9 trilhões de yuans em poupança total das famílias na China em 2012, estima Louis Kuijs, economista-chefe para a China do Royal Bank of Sctotland (RBS) de Hong Kong. Esse percentual é superior aos 23% de dez anos atrás.
Com o crescente excesso de capacidade em aço e cimento, o aumento do endividamento das empresas e o agravamento do problema representado pelo sistema financeiro paralelo, não regulamentado, Pequim precisa desacostumar a China do crescimento puxado pelos investimentos em favor de um maior consumo das famílias - correspondente a apenas 35,7% do Produto Interno Bruto (PIB), bem inferior à parcela de 50% a 60% observada em tantos outros países.
Os chineses de classe média, como Han, poupam centavos para arcar com apartamentos cada vez mais caros na cidade e para economizar para os custos com a escola dos filhos.
A classe trabalhadora também guarda yuans. Wei Yinping, de 26 anos, nascida em Sichuan e uma das funcionárias de uma fábrica de pulseiras de relógio em Shenzhen, se preocupa com o futuro pagamento da assistência médica caso ela ou seus pais contraiam uma doença grave. Ela poupa quase metade de seu salário mensal de 2,5 mil yuans. Por não possuir um "hukou" (cartão de registro familiar), ela não pode se valer da rede de assistência médica pública de Shenzhen. "Se tivesse um hukou local, poderia ter muitos benefícios de previdência social" e não teria de economizar tanto, diz ela. Wei pretende no futuro voltar para casa e cuidar da mãe.
Um dos motivos pelos quais os chineses são campeões da poupança é a grande dificuldade de ganhar um bom retorno. O banco central da China manteve as taxas de juros baixas: uma taxa de depósito de um ano paga 3%, enquanto os empréstimos destinados a apoiar os investimentos dos perdulários governos provinciais e empresas estatais rendem 6%. Descontada a inflação, as famílias chinesas ganham quase nada sobre os depósitos bancários.
"A política para a taxa de juros restringiu a capacidade das famílias de auferir renda com sua poupança e reduziu a pressão sobre as empresas de desempenho precário para que melhorem", advertiram Andrew Batson e Joyce Poon, analistas da empresa de consultoria econômica GK Dragonomics, sediada em Pequim, em relatório de maio.
O governo está tomando medidas para reformar o sistema do hukou. Está expandindo os planos de assistência médica e de aposentadoria para que os chineses não precisem economizar para se defender dos desastres. Os órgãos reguladores estão dando mais flexibilidade aos bancos para fixar taxas de juros baseadas no mercado e estimulando a concessão de empréstimos para o setor de serviços, medida que está criando postos de trabalho. Será necessário tudo isso e mais um pouco para ativar o poder de consumo dos chineses.
Fonte: Valor Econômico - 15/07/2013