Economia dos EUA anda cada vez mais lenta
Valor Econômico – 04/11/2013
Por Jonathan R. Laing Barron's
Em breve, os políticos dos Estados Unidos vão voltar a debater no Congresso sobre quanto o governo deve gastar ou em quanto pode aumentar os impostos ao longo dos próximos anos.
No entanto, o que é iminente neste debate é uma dura realidade que muitos políticos e seus constituintes desconhecem. O crescimento econômico dos EUA vai se desacelerar drasticamente nos próximos 20 anos, gerando muito menos dinheiro para equilibrar o orçamento ou para alimentar os gastos com benefícios sociais.
Desde a Segunda Guerra Mundial, os EUA têm causado inveja ao mundo, com um crescimento médio anual acima de 3,5% na maior parte de período, apesar de recessões periódicas, enormes gastos em defesa e uma inflação corrosiva do fim dos anos 60 ao começo dos anos 80. Mas duas tendências ameaçam acabar com essa Era Dourada de crescimento econômico, reduzindo a taxa de crescimento do pós-guerra pela metade - abaixo das estimativas atuais de Wall Street - pelas próximas duas décadas.
O crescimento depende do aumento da população ativa e de sua produtividade ou do aumento da produtividade, ou a quantidade que cada trabalhador produz por hora. Mais pessoas produzindo mais artigos ou prestando mais serviços significa mais crescimento. Infelizmente, cada uma dessas medidas está mostrando sinais de drástica desaceleração.
Essa nova realidade está apenas começando a aparecer nas previsões oficiais. Numa revisão do relatório de 2008, que reduz radicalmente a projeção de crescimento da população nos EUA, o Censo mostrou um crescimento muito mais lento nas próximas três décadas devido à redução no fluxo de imigrantes e uma taxa de natalidade menor do que a esperada. A população ativa dos EUA (americanos de 18 a 64 anos) deve crescer apenas 0,36% durante esta década e depois disso apenas 0,18% de 2020 a 2030. Isso está muito abaixo da taxa de 1,81% que prevaleceu na década de 70.
É muito mais difícil prever a evolução da produtividade industrial, mas as tendências recentes não dão motivos para otimismo. Num relatório chamado "O futuro dos EUA não é o que costumava ser: potencial de crescimento cai abaixo de 2%", os economistas Michael Feroli e Robert Mellman, do J.P. Morgan, mostram que, nos últimos três anos, a produtividade do trabalhador não relacionado à agricultura cresceu num ritmo de apenas 0,7% ao ano. Comparativamente, o impulso no período pós-Segunda Guerra Mundial resultou em um produto interno bruto anual médio de 2,3%. Na década que terminou em 2005, quando o aumento das atividades de internet e comércio eletrônico impulsionaram a produtividade dos trabalhadores por hora, a média foi de 2,9%.
Pode levar algum tempo até que nos acostumemos com os novos números de crescimento do PIB americano. Ao invés do percentual do pós-guerra de 3,2% que os americanos vivenciaram (que já recuou da taxa de 3,5% registrada entre 1948 e 2000), os EUA poderiam produzir, na melhor das hipóteses, uma média de crescimento do PIB de cerca de 1,9% entre 2012 e 2032, segundo Robert Gordon, economista da Northwestern University.
O economista Mark Zandi, da Moody's, concorda que o crescimento do PIB será medíocre no longo prazo. Ele acredita que as empresas americanas, que enfrentarão escassez de mão de obra e de talento nos próximos quatro ou cinco anos, vão exigir políticas de imigração mais liberais do Congresso para permitir a entrada no país de potenciais trabalhadores.
O dilema americano se torna mais difícil porque o mundo todo está envelhecendo, achatando o crescimento mundial. Um dos exemplos mais famosos é o Japão, onde a população em idade de aposentadoria tem aumentado constantemente, devendo chegar a 29% do total da população em 2025, de acordo com a Divisão de População da Organização das Nações Unidas. O envelhecimento do Japão coincide com um crescimento muito baixo da economia desde os anos 90.
Para os EUA, o envelhecimento mundial poderia inibir ainda mais o PIB ao limitar a demanda. Os mercados emergentes geralmente têm menos recursos para cuidar da população mais velha e podem ser forçados a redirecionar seus gastos para lidar com problemas domésticos.
Não é apenas o crescimento no número de aposentados que ameaça travar o crescimento da produção nos EUA. A taxa de participação de trabalhadores americanos (a Agência de Estatísticas do Departamento do Trabalho calcula o número dividindo todos os trabalhadores pelo número de americanos acima de 16 anos) tem caído constantemente nos últimos sete anos e passou de 66,2% da população em 2006 para 63,2% em agosto deste ano.
E a situação pode ficar mais difícil para quem está em idade produtiva. Gordon chama a atenção para obstáculos que podem prejudicar a competitividade do trabalhador americano numa economia mundial interconectada, incluindo um sistema de educação secundária que ficou em 17o lugar em leitura, 32o em matemática e 23o em ciências numa lista de cerca de 65 países, de acordo com a classificação do Programa de Avaliação de Estudantes Internacionais (Pisa, na sigla em inglês), da Organização para a Cooperação Econômica e o Desenvolvimento.
A renda média de uma família americana caiu nos últimos seis anos, de US$ 54.892 em 2006 para os atuais US$ 51.017. Muito desse declínio pode ser explicado pela Grande Recessão e uma recuperação devagar quase parando. No entanto, de acordo com um estudo recente realizado por Richard Burkhauser, economista da Universidade Cornell, e Jeff Larrimore, economista que faz parte do Comitê de Tributação do Congresso americano, forças demográficas ameaçam tornar o que são hoje ventos tranquilos no que Burkhauser chama de "um verdadeiro vendaval" nas próximas décadas, pelo menos para aquelas famílias nas faixas de renda mais baixas.
O principal contribuinte para o crescimento do PIB americano nos últimos 125 anos tem sido o aumento anual da produtividade, em vez do crescimento da população ou mudanças demográficas. Na verdade, o aumento da produtividade contribuiu cerca de dois pontos percentuais na taxa de crescimento do PIB anual de 3,5% durante a maior parte desse período.
Segundo os cálculos de Gordon, a produtividade americana alcançou seu pico entre 1891 e 1972, depois que a invenção da lâmpada elétrica e do motor de combustão interna desencadearam o surgimento de uma série de produtos inovadores, dos automóveis, aviões, rádios, refrigeradores e máquinas de lavar roupas aos arranha-céus com elevadores elétricos, o cinema falado e os meios de comunicação.
Aquele período de 80 anos viu a produção anualizada por trabalhador crescer 2,33%.
Depois disso, porém, durante o início da década de 70, houve um declínio significativo. Nos últimos 40 anos, o crescimento anualizado da produtividade caiu para 1,55%, mesmo incluindo os anos entre 1996 e 2004, quando o advento da internet aumentou a produtividade temporariamente para 2,45%.
Desde 2004, a taxa voltou a cair para apenas 1,2%, de acordo com uma análise de Gordon dos dados da Agência de Estatísticas do Departamento do Trabalho, e ele espera que ela continue estagnada em uma taxa de crescimento de 1,22% nos próximos 20 anos.
Para Gordon, essa queda de produtividade não se deve tanto ao emburrecimento dos americanos ou por eles terem se tornado menos inovadores. Nos últimos 40 anos, ocorreram avanços extraordinários na internet, robótica, ciência de materiais, smartphones, música e livros digitais, entre outros. Mas Gordon insiste que é muito mais difícil mover o ponteiro da produtividade hoje, quando a população dos EUA, de 316 milhões, é cerca de oito vezes maior que a de 1870.
(Colaborou Crystal Kim)