Em toda a AL poupar é principal destino de dinheiro que sobra, menos no Brasil

Os brasileiros encerraram o terceiro trimestre menos confiantes e mais preocupados com o desemprego, mas, ainda assim, mais dispostos a gastar

Valor Econômico – 26 /11/2013

Por De São Paulo

Os brasileiros encerraram o terceiro trimestre menos confiantes e mais preocupados com o desemprego, mas, ainda assim, mais dispostos a gastar. É o que mostra uma pesquisa global da consultoria Nielsen divulgada com exclusividade para o Valor. Para os recursos excedentes, a prioridade é o entretenimento fora do lar, apontado por 41% dos entrevistados, seguido pela compra de roupas novas, com 40%. Poupança, investimento e previdência estão nos planos de menos de 15%. O resultado contrasta com o de outros países da América Latina pesquisados. No México, Argentina, Colômbia, Chile, Venezuela e Peru, a poupança é vista como principal destino para o dinheiro excedente.

"O brasileiro está sendo malabarista, lidando com a tensão interna entre o que preservar e o que abrir mão do bem-estar conquistado, ao mesmo tempo em que é permeado por notícias de que o crescimento não vai ser aquele que se esperava no começo do ano", diz Olegário Araújo, diretor de atendimento da Nielsen. Para ele, o conflito resulta aos poucos em um aprendizado dos limites do consumo.

A pesquisa, realizada trimestralmente, mostrou a segunda queda consecutiva no índice de confiança dos brasileiros. Passou de 112 a 110 pontos do primeiro para o segundo trimestre e agora chegou a 109. O nível também é inferior ao do mesmo período de 2012. Ainda assim, na escala da Nielsen, o Brasil está no nível mais alto de confiança, que reúne países com indicador maior do que 101. Países com índice entre 90 e 100 estão no nível médio e os abaixo de 89 são considerados pessimistas.

Em três meses, também diminuíram, de 68% para 59%, os brasileiros que consideram boas ou excelentes as perspectivas locais de emprego para os próximos 12 meses, no pior resultado do ano. Em um ano, aqueles que têm perspectivas ruins ou não tão boas de emprego passaram de 29% para 38% dos entrevistados.

Apesar do contexto pouco animador, os que percebem as finanças pessoais para os próximos 12 meses como excelentes ficou estável na comparação trimestral e anual, em 14%. Além disso, desde o último trimestre cresceu dois pontos percentuais a parcela de brasileiros que acham essa uma época boa ou excelente para comprar o que se deseja e precisa.

Os entrevistados também são questionados sobre como pretendem usar os recursos excedentes após cobrir as despesas essenciais, em que podem marcar quantas alternativas quiserem. O entretenimento fora do lar manteve-se na liderança, com a escolha de 41% dos participantes, muito acima dos 36% do trimestre anterior. Em seguida vem a compra de roupas novas, que também avançou, de 33% para 40%. O desejo de comprar produtos com novas tecnologias e viagens de férias também cresceu de forma expressiva na comparação trimestral e anual.

A chegada do fim de ano - e do tão esperado décimo terceiro salário - também traz consigo um desejo de indulgência, de concessões ao desejo consumista, segundo Araújo. Mas é preciso ter planejamento. "No começo do ano, além de ter que pagar a fatura do fim de ano, temos uma concentração muito grande de impostos, como IPVA", lembra.

Enquanto o desejo de gastos foi reforçado, quitar dívidas perdeu uma posição, passando do segundo para o terceiro lugar. É apontada entre as prioridades por 38% dos entrevistados. Já a intenção de investir em ações e fundos avançou de 13% para 14%. Há um ano era de 10%. O desejo de aplicar em previdência também cresceu, de 6% pra 7%. Já a intenção de colocar dinheiro na poupança diminuiu um pouco, de 13% para 12%.

As maiores preocupações dos entrevistados para os próximos seis meses são saúde, equilíbrio entre trabalho e vida e a economia, que subiu do quinto para o terceiro lugar em um trimestre. O percentual dos que acham que o Brasil está em recessão econômica neste momento, que vinha subindo trimestre a trimestre, saltou nos últimos três meses de 41% para 55%. Os que acham que o país sairá da recessão nos próximos 12 meses diminuíram de 20% para 15%.

O aumento no preço dos alimentos aparece em sétimo lugar, em uma lista de 19 preocupações. Outras pesquisas da Nielsen, segundo Araújo, têm mostrado atenção maior à inflação, que se reflete em uma retração no volume de compras em alguns itens de uso cotidiano e um intervalo maior entre visitas a lojas e supermercados.

No restante da América Latina, a segurança no emprego lidera a lista de preocupações, com exceção da Venezuela, em que a economia está no topo.