Após 20 anos, Siegel revisa seu livro "Investindo em Ações no Longo Prazo"

"Os retornos das ações até 2013 ficaram em uma média de 6,7% ao ano, que é exatamente o mesmo que eu informei na primeira edição"

Valor Econômico – 18/02/2014

Por Chris Taylor | Da Reuters

Há milhares de livros sobre investimentos por aí, mas pouquíssimos podem ser considerados verdadeiros clássicos. Alguns dos títulos incluem "The Intelligent Investor" (O Investidor Inteligente, no Brasil), de Benjamin Graham, uma das bíblias do investimento em valor e um dos livros favoritos de gurus como Warren Buffett, da Berkshire Hathaway. Talvez livros como "A Random Walk Down Wall Street", de Burton Malkiel, ou "Beating the Street", do ex-gestor da Fidelity Magellan Peter Lynch, devam ser incluídos na relação.

Mas nenhuma lista do tipo estaria completa sem "Stocks for the Long Run" (Investindo em Ações no Longo Prazo, no Brasil), de Jeremy Siegel, um professor de finanças da Wharton School da Universidade da Pensilvânia.

É difícil acreditar, mas 20 anos se passaram desde a primeira edição deste clássico, em 1994. Agora, uma nova edição está sendo lançada, analisando a crise financeira de 2008 que abalou os investidores e fornecendo novas previsões para os próximos anos.

A Reuters conversou com Siegel sobre a grande aventura das duas últimas décadas - e sobre as reviravoltas que ainda poderão ocorrer.

Chris Taylor: Vinte anos se passaram desde a publicação de seu livro, mas os retornos de longo prazo das ações continuam os mesmos. O senhor vê essas constatações como uma validação de seu trabalho?

Jeremy Siegel: Os retornos das ações até 2013 ficaram em uma média de 6,7% ao ano, que é exatamente o mesmo que eu informei na primeira edição de "Stocks for the Long Run", em 1994. É claro que houve muita volatilidade nas duas últimas décadas. E no curto prazo, as ações são de fato uma classe de ativo muito volátil. Mas no longo prazo, talvez elas sejam a mais estável de todas as classes de ativos, proporcionando os retornos mais altos.

Taylor: No entanto, o senhor não está tão esperançoso em relação aos detentores de bônus.

Siegel: Eles tiveram anos excelentes, mas o cenário do momento me lembra o começo dos anos de 1960. Não acredito que teremos taxas de inflação como as que tivemos na década de 1970, que chegaram aos dois dígitos, mas acho que as taxas de juros de dez anos dos bônus chegarão a 4% ou 5%. Talvez não neste ano, mas em 2015 ou 2016. E isso obviamente significa que os detentores de bônus terão um período mais difícil pela frente.

Taylor: A nova edição do livro analisa as raízes da crise financeira de 2008-09. Qual é a sua opinião?

Siegel: Não culpo Alan Greenspan [ex-presidente do Federal Reserve] por manter baixas as taxas de juros. Não acho que isso seja relevante. Mas eu o culpo por não ter percebido o acúmulo de ativos de risco nos balanços de instituições financeiras importantes. Quando o Lehman Brothers e o Bear Stearns começaram a se alavancar até 50-1 ou mais, com títulos imobiliários arriscados que de forma equivocada recebiam a classificação de 'triple A", deveria ter soado o alarme.

Taylor: Olhando à frente em relação à sociedade, uma observação que o senhor faz é de que as idades de aposentadoria precisam mudar.

Siegel: Quando programas de seguridade social começaram, a expectativa de vida média das pessoas era de 67 anos. Mas o mundo está mudando. Na época, os custos de programas eram frações pequenas do que estamos esperando hoje. Agora, somos muito mais saudáveis e os 70 anos são os novos 60, ou mesmo os novos 50. Não há razão para não trabalharmos mais. Se a idade de aposentadoria não mudar, isso não será bom para os retornos das ações no futuro.

Taylor: Parece que o senhor está bem otimista com os mercados emergentes, que estão passando por um momento difícil.

Siegel: As avaliações dos emergentes estão tão baixas este ano que acredito que o momento oferece uma oportunidade única. As empresas dos mercados emergentes estão sendo vendidas a 10 ou 11 vezes os lucros esperados; em alguns lugares, como a China, as avaliações estão ainda menores, em 7 vezes. Isto é incrível. Há oportunidades que você não tem com frequência. Faz parte de um ciclo comum, que oscila entre o otimismo e o pessimismo. Se você reconhece isso, vai em frente. Mas saiba que você poderá ter mais algumas perdas no curto prazo, antes de os mercados atingirem definitivamente o fundo do poço.

Taylor: O que tudo isso significa em termos de alocação para os pequenos investidores?

Siegel: Se você é um investidor agressivo, pode olhar para uma alocação de ações compreendida de um terço de ações americanas, um terço de ações de mercados desenvolvidos que não os EUA, como o Japão e a Europa, e um terço de ações de mercados emergentes. Não vejo muito futuro nos bônus, o rendimento dos ativos de liquidez imediata [cash] é praticamente zero, e as commodities não parecem muito atraentes. Minha sensação é de que as ações ainda oferecem as melhores perspectivas de longo prazo para os retornos futuros. E se olhássemos para trás dois ou três anos, nas relações de preço/lucro desse mercado, provavelmente estaríamos muito felizes por entrar nele.

Taylor: Se o senhor tivesse que prever o que a próxima atualização de seu livro estará discutindo dentro de alguns anos, o que seria?

Siegel: Geralmente faço uma atualização de "Stocks for the Long Run" a cada quatro anos ou coisa parecida. Portanto, em quatro anos a partir de hoje, em 2018, honestamente não prevejo uma outra crise como a que acabamos de ver. É preciso voltar para a década de 1930 para ver algo parecido. Aquilo não foi uma coisa que marcou uma geração, foi uma coisa extremamente rara. (Tradução de Mario Zamarian)

Chris Taylor é colunista da Reuters, e as opiniões expressas nesta análise correspondem à visão do autor e não as da Reuters ou do Valor