Os conselhos sobre investimentos de Buffett funcionariam para você?
Valor Econômico – 11/03/2014
Por Lauren Young | Reuters, de Nova York
Na mais recente carta aos acionistas da Berkshire Hathaway, o sempre amável Warren Buffett soa mais como um guru das finanças pessoais do que como um gênio financeiro.
O patrimônio de Buffett está avaliado em US$ 60 bilhões, segundo a revista "Forbes", portanto obviamente ele está fazendo a coisa certa. Mas qual é a solidez de seus conselhos para o resto de nós? Conversei com alguns consultores e especialistas, alguns deles o tipo de pessoa que Buffett acha que você deveria ignorar.
O que imediatamente chamou minha atenção foi a instrução de Buffett de que sua esposa forme grandes posições do índice Standard & Poor's 500 (S&P 500) depois que ele morrer. Mas isso não é nenhuma grande surpresa. Há muito Buffett é fã de Jack Bogle, fundador do Vanguard Group, que defende os investimentos passivos e de baixos custos. Mas é a primeira vez que Buffett "passa da palavra à ação em relação ao seu próprio patrimônio", disse o próprio Bogle em e-mail.
Especificamente, Buffett quer que o administrador de seu espólio coloque 10% da herança de sua esposa em bônus de curto prazo do governo americano e 90% em fundos de ações de baixos custos que acompanham o S&P 500 - e, ao fazer isso, ele tira o chapéu para a Vanguard de Bogle. Buffett diz: "Acredito que os resultados de longo prazo que esse fundo terá com essa política serão superiores àqueles obtidos pela maioria dos investidores - sejam eles fundos de pensão, instituições ou indivíduos".
Pelo valor de face, essa é uma recomendação sólida, embora possa parecer um pouco estranha, levando em conta que a Berkshire Hathaway teve desempenho inferior ao do S&P 500 nos últimos cinco anos. Mas não surpreende porque Buffett tende a reação um pouco lenta nos "bull markets" [mercados em fase de alta], diz Robert Hagstrom, autor do livro "The Warren Buffett Way". "Ele é muito otimista com os EUA, não necessariamente com ações, mas em relação ao país", diz Hagstrom.
A recomendação de Buffett de compra de fundos indexados ao S&P 500 é sólida, afirmam especialistas. "O S&P 500 é provavelmente o melhor índice", diz Lou Kokernak, consultor financeiro da Haven Financial Advisers, do Texas.
No entanto, outros consultores afirmam que Buffett está endossando uma estratégia de alocação de ativos que não é a ideal para a maioria. Isso porque o S&P 500 está concentrado em ações de companhias americanas, mesmo que umas poucas tenham inclinação multinacional. "Nos referimos a isso como um viés doméstico, e é muito perigoso", diz Randy Kurtz, diretor de investimentos da R K Investment Advisors de Kinnelon, Nova Jersey.
É exatamente por isso que Paulo Jabocs da Palisades Hudson Financial Group de Atlanta sugere a aplicação de até 40% das posições em ações estrangeiras.
Outra crítica? A maioria não tem como arcar com o risco de uma carteira 90/10. "Eles teriam ficado muito assustados quando sua aplicação de US$ 1 milhão se transformou em US$ 500 mil em 2009", diz Matthew Chope, consultor financeiro da Raymond James de Southfield, Michigan.
Isso nos leva a outra grande lição de Buffett: invista em vez de especular. Em sua carta de 24 páginas, Buffett usa os exemplos de um prédio de escritórios de Nova York e uma fazenda que ele visitou apenas duas vezes, e que eram investimentos de longo prazo que ele manteve ao longo dos altos e baixos do mercado.
Uma fazenda e um prédio de escritórios podem parecer investimentos estranhos para alguns. Mesmo assim são "Buffetts clássicos" porque vão ao cerne do que fustiga os investidores, que passam mais tempo preocupados com o preço de um ativo do que seu valor intrínseco, diz Hagstrom. "O investimento está concentrado no ativo e no que esse ativo vai ganhar, enquanto a especulação concentra-se no preço e na previsão das mudanças que ocorrerão no preço", diz Hagstrom.
Buffett escreve: "Com meus dois pequenos investimentos, pensei apenas naquilo que as propriedades produziriam e não me importei nem um pouco com suas avaliações diárias. Jogos são vencidos pelos jogadores que se concentram no tabuleiro - e não por aqueles que ficam pregados no placar".
Esta é a principal lição de Buffett em seu mais recente tomo aos acionistas, diz Josh Brown, diretor-presidente da Ritholtz Wealth Management. "Ele investe como se fosse proprietário e fica atento às suas próprias fraquezas", explica Brown. "Ele compra ações de companhias que prefere ter, não importando o que aconteça com o cenário macroeconômico."
Será que os investidores conseguem ficar indiferentes às altas e baixas incrementais do mercado? Isto não é fácil. Mas adora esta pequena pérola de Buffett: "Se você consegue apreciar os sábados e os domingos sem precisar olhar para os preços das ações, tente fazer isso nos dias de semana". Acho que podemos tentar. (Tradução de Mario Zamarian)