Investidores jovens devem ter maior exposição a ações? Talvez não
Valor Econômico – 07/04/2014
Por Mark Miller | Da Reuters
A Geração Y (ou Geração do Milênio) parece não dar ouvidos à sabedoria popular quando o assunto é investir. Um relatório recente da UBS Wealth Management Americas mostra que eles são os investidores mais avessos ao risco desde a Grande Depressão, com suas carteiras posicionadas em média em 52% em ativos de curto prazo e liquidez imediata (cash).
Isso vai contra o que a maioria dos especialistas em investimentos diria a você, que os jovens precisam ter uma maior exposição a ações para atingir objetivos de longo prazo e que essas alocações devem diminuir à medida que a aposentadoria se aproxima. Tal filosofia serve de base para o produto de aposentadoria que mais cresce hoje em dia, o fundo ciclo de vida.
Essas carteiras ajustam automaticamente sua exposição ao risco de acordo com a faixa etária, e elas estão crescendo de maneira explosiva: cerca de US$ 618 bilhões estavam aplicados nos ciclos de vida no fim de 2013, em comparação a US$ 160 bilhões em 2008, segundo o Investment Company Institute (ICI). A maior parte desse montante estava em planos de contribuições definidas, que reuniam US$ 5,9 trilhões no ano passado.
Rob Arnott acha que essa estratégia é equivocada. Respeitado investidor e pesquisador acadêmico, Arnott é diretor-presidente da firma de gestão de investimentos Research Affiliates. Ensaio recente publicado no "Journal of Retirement", do qual ele foi coautor, destaca que os investidores saem ganhando quando começam conservadores e passam a assumir mais riscos à medida que envelhecem.
O ensaio analisa mais de 140 anos de retornos, simulando centenas de resultados para três estratégias de portfólio. Uma delas começa com a proporção de 80% em ações e 20% em bônus; a segunda passa por um rebalanceamento anual para chegar a uma alocação meio a meio; e a terceira começa com 20% em ações e 80% em bônus e passa ao longo do tempo para uma alocação concentrada em ações (80%). Arnott e seus coautores concluíram que um investimento de US$ 1.000 por 40 anos termina em média 11% melhor no fundo balanceado do que no ciclo de vida, assim como a alternativa que começa mais conservadora bate o ciclo de vida em 22%.
Um dos principais pontos de Arnott é que aposentados com baixa alocação em ações perdem os ralis dos mercados nos anos de saída, quando eles estão mais velhos e possuem as maiores carteiras e, por conseguinte, o maior potencial de ganhos. Mas não são os jovens justamente aqueles que podem adotar uma visão de longo prazo para seu dinheiro?
A Fidelity Investments informou recentemente que 41% dos trabalhadores que poupam para a aposentadoria e estão na casa dos 20 anos resgatam suas contas quando deixam seus empregos. Nos EUA, os resgates antes da idade de 59,5 anos estão sujeitos a uma multa de 10% na maioria dos casos, e os fundos são taxados como rendimento corrente no ano de retirada. Os números da Fidelity sugerem que, para muitos trabalhadores jovens, as contas de aposentadoria não são dinheiro de "longo prazo". Vinte e cinco por cento de todas as contas 401(k) são encerradas após três anos, segundo dados do Federal Reserve (Fed), e 50% são encerradas após sete anos. Algumas delas são roladas, mas muitas são resgatadas.
"Se os adultos jovens que estão no processo inicial de poupança são tão volúveis em relação ao risco, por que colocá-los em uma carteira com 80% de ações, em que poderão ter grandes perdas se tivermos uma repetição de 2008 e 2009?", pergunta Arnott. "Metade de seu patrimônio líquido poderá desaparecer e eles evitarão assumir riscos pelo resto de suas vidas."
"Ter seu dinheiro inicial investido de uma maneira menos agressiva tornaria o processo mais parecido com um plano de poupança, e não com um jogo especulativo. Se a aparência for mais de um plano de poupança, eles poderão ter mais disposição em ficar com ele, em vez de partirem para o resgate quando mudarem de emprego."
Arnott sugere aos jovens iniciantes começar com uma carteira bem diversificada e muito menos arriscada. "Eu estruturaria a aplicação de maneira a ter uma volatilidade muito baixa, sem colocar em risco mais de 20% de seu principal. Você manteria as aplicações nessa carteira até que conseguisse US$ 50 mil, por exemplo, e depois poderia mudar para um ciclo de vida."
A maioria dos especialistas tira uma lição diferente dos números de resgates: a de que os jovens deveriam ser encorajados a formar fundos emergenciais fora de seus 401(k)s, a fim de ajudá-los a evitar ter de recorrer às contas de aposentadoria quando passam por um momento difícil ou trocam de emprego. "É preocupante ver as pessoas sacando recursos em vez de portá-los ou mantê-los no plano", diz Wei Hu, vice-presidente de pesquisas financeiras da Financial Engines, que presta serviços de planejamento financeiro. "A coisa mais inteligente a se fazer é manter um dinheiro emergencial suficiente disponível fora da conta de aposentadoria com imposto diferido."
Isso parece bom - em tese. Para muitas famílias mais jovens, as pressões financeiras tornam difícil qualquer poupança. Sessenta por cento das famílias que participam de um plano 401(k) acrescentaram mais dívida ao seu balanço familiar do que contribuíram para as poupanças de aposentadoria de 2010 para 2011, segundo um estudo da Hello Wallet, outra firma de planejamento financeiro.
A maioria dos gestores de investimentos rejeita a opinião de Arnott de que a exposição a ações deve começar baixa e aumentar à medida que a aposentadoria se aproxima. Jerome A. Clark, gestor de portfólio da T. Rowe Price Retirement Funds, acrescenta que construir produtos de investimentos para a aposentadoria em torno de comportamentos erráticos de investidores não faz sentido.
"Com qualquer produto de aposentadoria você vai estar tentando resolver um problema específico. Com os ciclos de vida, o problema é como acumular poupança de maneira apropriada, e depois oferecer uma renda vitalícia na aposentadoria. Sabemos que haverá uma grande variedade de comportamentos dos investidores em um plano - e que haverá comportamentos longe do ideal. Mas para a maioria dos patrocinadores de planos, o que importa é proporcionar uma alocação de ativos que dê às pessoas a melhor chance de elas alcançarem seus objetivos." (Tradução de Mario Zamarian)