Fundações começam a fazer investimentos no exterior
28/05/2014 – Valor Econômico
Por Mariana Segala | Para o Valor, de São Paulo
Liberada há quase cinco anos, a possibilidade de fundos de pensão investirem em ativos no exterior finalmente começou a ser executada. De acordo com a resolução 3.792 do Conselho Monetário Nacional (CMN), de 2009, as entidades fechadas de previdência complementar podem alocar até 10% do seu patrimônio em aplicações fora do país. Mas entraves burocráticos e o bom desempenho do mercado de capitais brasileiro nos primeiros tempos depois da edição da medida adiaram os planos. "Com a péssima performance da bolsa brasileira mais recentemente, nos últimos dois anos, e os recordes históricos de alta dos mercados internacionais no mesmo período, ficou mais fácil as fundações se convencerem a, definitivamente, dar início a essas aplicações", diz Eduardo Sampaio, diretor executivo da consultoria americana FTI Consulting no Brasil.
Alguns bancos e gestoras já começaram a atender esse público. A BB DTVM, gestora do Banco do Brasil, colocou na prateleira quatro fundos diferentes voltados para as fundações de previdência. A gestora trabalhou em conjunto com um grupo de aproximadamente 15 fundações para deixar os primeiros produtos de pé. Juntos, selecionaram quatro fundos globais de ações: um da gestora BlackRock, outro da Schroder, um terceiro da Franklin Templeton e o último do JP Morgan. Cada um deles ganhou um fundo "espelho" constituído no Brasil, sob a batuta da BB DTVM.
"Vontade de investir no exterior nós tínhamos há muito tempo, mas operacionalizar a regra dos 25% de concentração exigiu que esperássemos para fazer a aplicação em conjunto com outras fundações", explica Jorge Simino, diretor de investimentos e patrimônio da Fundação Cesp.
Já a Caixa Econômica Federal, no ano passado, lançou fundos que investem em BDRs - Brazilian Depositary Receipts, ou recibos de ações de empresas estrangeiras negociados no mercado local - para atender a esse público. Neste ano, o banco tem se dedicado a estudar alternativas. "Vamos abrir um fundo local que invista em estratégias de renda variável no exterior, comprando cotas de outros fundos", explica Flavio Eduardo Arakaki, diretor executivo de ativos de terceiros do banco. Ao contrário do concorrente, a Caixa investirá com um único fundo local em cotas de pelo menos três fundos diferentes no exterior, de modo a assegurar diversificação para a carteira. O objetivo será seguir o desempenho do MSCI World Index, um índice global de ações que acompanha a performance de cerca de 1.600 papéis de empresas de mais de 20 países.
Do ponto de vista das fundações, é esperado que novos produtos do tipo tenham boa receptividade. "Investir no exterior diversifica, aumenta a liquidez, reduz o risco dos nossos planos e possibilita a aplicação em setores que não temos na bolsa brasileira. Além disso, as parcerias com os gestores agregam novos conhecimentos e técnicas para nossa própria área de gestão", diz André Tapajós, diretor de investimentos em exercício da Previ, fundo de pensão do Banco do Brasil. Até o fim desse ano, a fundação vai direcionar um total de até R$ 240 milhões para os fundos já lançados pela BB DTVM.