Por que é tão difícil saber o quanto se pode gastar ao dia
18/06/2014 – Valor Econômico
Por Beth Pinsker | De Reuters, de Nova York
Lutando para sair da dívida no cartão de crédito, acumulada quando estava na faculdade, Rion Robinson recorreu a muitas estratégias diferentes para conter seus gastos, das velhas planilhas a programas de gestão de dinheiro como o Mint.
Nenhuma delas funcionou. Então, Robinson, 27 anos e funcionário de uma fornecedora de produtos médicos de Columbus, Ohio, tentou o aplicativo orçamentário Level Money. Seis meses depois, ele havia eliminado sua dívida. O Level, lançado no quarto trimestre do ano passado, é voltado para a Geração Y, com suas finanças relativamente simples e dependência da tecnologia digital. Ele tenta destilar o orçamento para conseguir extrair apenas um número: o dinheiro que se tem para gastar livremente.
Para Robinson, esse dinheiro era de US$ 17,57 por dia. "Eu checava o aplicativo todo dia, às vezes várias", diz ele. "Funcionou para mim." Robinson não é a única pessoa a se sentir separada da presença física do dinheiro. "Perdemos a facilidade de olhar para a carteira para ver quanto de dinheiro sobrou", diz Jake Fuentes, fundador e executivo-chefe da Level. A companhia não revela quantos usuários tem, mas diz que o aplicativo já foi baixado mais de 500 mil vezes.
Por causa do Level, Robinson abriu mão de seu café com leite de U$ 3 porque finalmente conseguiu ver como ele estava afetando o orçamento que tinha para o supermercado. Ele também deixou de comprar música pelo iTunes e mudou para serviços de streaming gratuitos. Além disso, desistiu de um pacote de canais de TV a cabo.
Chegar a um número de gasto diário não é uma matemática fácil, e é por isso que a maioria dos programas de orçamento analisa apenas os gastos prévios. Mas companhias como a Mint, com 15 milhões de usuários, e grandes bancos como o Wells Fargo & Co também estão trabalhando em meios para esticar as finanças.
Embora muitas contas e pagamentos de rendimentos sejam regulares, outros não são tão fáceis de serem monitorados. "Gastar pode ser uma coisa irregular", diz Brett Pitts, diretor de gestão de produtos do Wells Fargo para a área de canais digitais. "E monitorar o fluxo de caixa apenas por monitorar não basta."
O problema: a maioria dos programas de gestão de dinheiro retroage apenas uns dois meses quando os usuários começam e podem não capturar as contas futuras de água ou impostos, pagamentos fixos como mensalidades escolares ou despesas inesperadas como o conserto do automóvel. As contas que são divididas com outras pessoas também precisam ser repartidas.
A inserção de todos os dados necessários para um cálculo confiável pode ser uma tarefa onerosa. A Mint descobriu que apenas cerca de 20% dos americanos têm tempo para quantificar suas despesas.
Vince Maniago, diretor de produto do grupo da Mint, uma divisão da Intuit, diz que sua equipe trabalha numa solução para a questão dos gastos diários. Ele acha que será necessário cerca de um ano para aparar todas as arestas. Os usuários querem que isso seja feito, diz. O que eles não querem é enfrentar o trabalho para chegar a isso. "É como querer comer couve crespa e quinoa, e não comer", diz ele.
O Wells Fargo está testando soluções que vão além de apenas fornecer uma atualização do saldo. Muitos dos clientes do banco verificam suas contas a partir das linhas das lojas para se certificar de que possuem o suficiente para cobrir as compras. Mas os saldos das contas não descontam as próximas retiradas; assim, se a pessoa for ao supermercado hoje, pode se deparar com uma taxa por saque a descoberto amanhã, quando a conta de gás for automaticamente deduzida.
"A dificuldade de a pessoa checar o saldo todo o dia é a indicação falsa", diz Steve Wender, cientista-sênior da HelloWallet.com, um serviço de análise financeira atualmente controlado pela assessoria de investimentos Morningstar. A maneira de aumentar o envolvimento das pessoas é pedir muito pouco delas, diz Wendel. Alguns alertas para advertir sobre saldos baixos ou sobre grandes contas por entrar são suficientes, mas mais do que isso simplesmente as sobrecarrega.
Foi isso, sem dúvida, o que aconteceu com Jessica Flaherty, de 30 anos, moradora de Lewinston, no Estado de Maine, que estava atolada em dívidas com a faculdade de direito. Jessica não queria enfrentar seus problemas; por isso se limitou a ignorá-los e desligou o telefone para cobradores.
Em fevereiro, quando ela finalmente concluiu que precisava fazer alguma coisa, não se concentrou numa cifra de gastos diários. "Eu não tinha um número para gastar em um dia", diz ela. "Tinha um número negativo."
Em vez disso, abriu uma conta na Mint, forneceu todas as suas informações e fixou como meta quitar suas dívidas. A janela adicional do navegador lhe disse que não havia como fazer isso. Jessica encontrou umas coisas para vender e conseguiu quitar seus empréstimos de juros mais elevados, o que reduziu seus pagamentos mensais de US$ 1 mil para US$ 500. Também arranjou um emprego como coordenadora voluntária numa biblioteca local.Desde então Jessica não está em atraso na quitação dos empréstimos. As mudanças de hábitos de gasto são mais difíceis de conseguir. "Não me saí bem no orçamento do café", reconhece. Mesmo assim, Jessica diz que agora se sente mais no controle de suas finanças. "Tento ficar mais preparada para elas", afirma ela, "em vez de me castigar quando falho". (Tradução de Mario Zamarian)