O desafio de criar um adulto financeiramente bem-sucedido
01/07/2014 – Valor Econômico
Por Chris Taylor | Da Reuters
É o medo secreto de todos os pais americanos: não conseguir criar filhos independentes. E se, a despeito de seus esforços, seus filhos adultos simplesmente não forem capazes de se sustentar? Essa possibilidade dava a Andy Byron suores frios. Com uma "equipe" de cinco filhos, esse planejador financeiro de 57 anos, morador de Pleasanton, Califórnia, não queria saber de adultos dependentes bem além da marca dos 30 anos.
Por isso, ele e sua esposa transformaram sua casa numa fábrica virtual para a produção em série de filhos financeiramente independentes. A garota mais velha, de 29 anos, é professora de inglês. Aos 26 anos de idade, os gêmeos trabalham na Apple e na PWC. Seu filho de 22 anos conseguiu um estágio de verão remunerado na Stryker Corp, de equipamentos médicos. A filha de 19 anos, estudante do segundo ano de uma faculdade, combina os estudos com um estágio de verão remunerado e um trabalho de contabilidade de meio período durante o ano letivo.
Então, qual é o segredo? "Comece cedo, seja persistente e certifique-se de que eles saibam quais são as responsabilidades que devem assumir", diz Byron. Assim que seu filhos completaram 16 ou 17 anos, eles foram informados de que tinham que arranjar um emprego e se virar por conta própria após a graduação. Como resultado, os três mais velhos saíram da casa dos pais e não recebem mais mesada do "banco" da mamãe e do papai; os dois mais novos seguirão o exemplo em breve.
Embora o clã dos Byron pareça ter planejado tudo isso, não é tarefa fácil expulsar os filhos do ninho. Entre pessoas na faixa dos 40 e 50 anos que têm filhos adultos, impressionantes 73% dizem ter prestado ajuda financeira no ano anterior, segundo o Pew Research Center, um instituto de pesquisas e planejamento em Washington.
Será que a independência bem-sucedida dos 27% devem-se a ponderados projetos de vários anos visando educar as crianças sobre como lidar com as finanças? Ou são produto de amor exigente, jogando os filhos adultos no lado fundo da piscina para forçá-los a nadar? "Eles são mais resultado de educação financeira, e de conversas sobre dinheiro, um tema ainda considerado tabu assim como sexo", diz Sally Koslow, autora do livro "Slouching Toward Adulthood" (Entrando de má vontade na idade adulta, na tradução).
Para as pessoas com filhos que ainda não decolaram, ainda há tempo de sobra. Aqui vão algumas observações sobre como preparar os filhos para a independência financeira durante a faculdade e nos anos críticos posteriores:
• Se você não quer que seus filhos fiquem financeiramente dependentes, faça o que puder para ajudá-los a sair da faculdade sem dívida. Sete em cada dez universitários formado em 2013 ainda precisavam quitar seus financiamentos educacionais, com endividamento médio de US$ 29,4 mil, segundo a organização Project On Student Debt. Para ajudá-los, comece a poupar quando eles ainda estiverem de fraldas.
Andy Byron e sua esposa contribuíram com ao menos US$ 50 por mês para poupanças específicas para cobrir gastos com o ensino superior de cada um de seus cinco filhos "assim que cada filho passou a ter um número da seguridade social", diz ele. Byron complementou a estratégia agressiva "sugerindo enfaticamente" que os filhos cursassem universidades públicas. A recompensa: todos os seus filhos formados deixaram a faculdade sem endividamento estudantil.
• A popular série "Girls", da HBO, tinha como pivô um evento-chave: o corte da dependência financeira da personagem de Lena Dunham por seus pais. Isso pode ser doloroso para todos os envolvidos, mas necessário. "Os pais ficam tão envolvidos emocionalmente", diz Matt Curfman, vice-presidente da consultoria financeira Richmond Brothers. "É por isso que eu digo a eles: 'Se você precisar que eu faça o meio de campo para ajudar, mesmo se eu acabar fazendo o papel de malvado, estarei pronto a fazê-lo'".
Isso não precisa ser feito de uma só vez, observa Curfman. Se seu filho adulto estiver em apuros financeiros, elabore um plano concreto para ajudá-lo com uma certa quantia durante um determinado número de meses, mas não vá além disso.
• Os filhos têm muitas aulas de cálculo e de química durante o ensino médio e na faculdade, mas e de finanças pessoais? Nem tanto. É aí que os pais podem marcar presença como um recurso crítico. Para Annie-Rose Strasser, 24 anos, a educação em casa foi o que a colocou no caminho de se tornar a jovem adulta financeiramente independente que é agora. Strasser tem um emprego de tempo integral como jornalista em Washington e vive em seu apartamento próprio. "Eu nunca aprendi nada sobre finanças pessoais na escola - planos 401(k), economizar, manter um orçamento equilibrando: aprendi tudo isso com meus pais", diz ela.
Ao lado dessa instrução informal em casa, havia a expectativa inicial de que começaria a trabalhar assim que fosse capaz. Um fluxo constante de trabalho preparatório - em acampamentos de verão, escritório, estágios remunerados - ajudaram a criar as condições para que ela tivesse êxito em decolar. (Tradução de Sergio Blum)