Aprenda conceitos de finanças com seu bebê
04/11/2014 - Valor Econômico
Por Fernando Torres
Sempre imaginei que cuidar de um nenê iria me ensinar coisas valiosas na vida. E eu estava certo. Tenho certeza absoluta de que sou uma pessoa melhor e mais feliz hoje do que era antes da chegada do Dudu, em maio.
Mas nunca pensei que um bebê poderia me ajudar também a entender mais sobre alguns conceitos básicos de finanças. E é bom que se diga que desta vez não falarei sobre as despesas que ele vem gerando.
Logo abaixo segue uma lista incompleta do que um bebê de poucos meses pode ensinar sobre uma vida financeira saudável.
Informações de várias fontes
Para saber como um bebê deve dormir, ser alimentado, vestido ou trocado, as pessoas costumam se informar por meio de conversas com parentes mais experientes, lendo livros ou frequentando cursos para pais de primeira viagem. Da mesma forma deve ocorrer na vida financeira. A busca de informação prévia mínima, em fontes confiáveis, é uma tarefa que deve ser cumprida antes de uma tentativa de aventura por novos produtos de crédito ou investimento.
A opinião de um especialista
Dentre as informações que você busca para decidir como cuidar de um bebê, a orientação do pediatra é a que costuma ter mais peso. Nem sempre você concorda e segue cada detalhe da orientação que ele ou ela dá. Mas este costuma ser seu porto seguro e o fiel da balança em caso de dúvida. Na vida financeira, o aconselhamento com um profissional experiente, e que esteja alinhado com você, não chega a ser imprescindível como no caso da criação de um bebê. Mas pode ser bastante útil para te dar segurança sobre as decisões que você decidir tomar, especialmente se você não for um entendedor do tema.
Mudar é um processo lento
Um bebê não para de mamar no peito para no dia seguinte comer um sarapatel ou uma dobradinha. A introdução de alimentos sólidos na dieta de um bebe é feita de maneira lenta e gradual, para que o paladar e o sistema digestivo do bebê se adaptem sem maiores traumas. O mesmo vale para o investidor. Ele não deve sair de uma aplicação como a caderneta de poupança diretamente para a renda variável ou o mundo dos derivativos, com opções fora do dinheiro ou contratos futuros. Vale experimentar um fundo conservador primeiro, depois outro um pouco mais arrojado para só então se chegar a alternativas mais sofisticadas e que envolvam risco de perda do principal. Além disso, uma criança, quando começa a comer, não deixa de tomar leite. Mantém uma alimentação balanceada, ou diversificada, tal como vale para o investidor.
Medição de resultados
Quem tem filho sabe que a cada consulta no pediatra duas tarefas serão repetidas sempre. O bebê é pesado e medido. A mensuração de resultados de tempos em tempos é fundamental para que se saiba se as coisas andam bem, seja com o seu nenê ou com o seu patrimônio. E o pediatra não se importa apenas com o peso ou altura absoluta do bebê. Ele a compara com uma "referência" média (benchmark) para identificar se a criança está dentro, abaixo ou acima da curva esperada. Você já deve ter ouvido algo semelhante sobre aplicações financeiras, quando o retorno é dado em percentual do CDI ou outro indicador.
Gerenciamento de riscos
Poucas coisas no mundo devem sintetizar tão bem uma estratégia de gerenciamento de riscos quanto uma mala de bebê. Não importa se você está indo para o Alasca ou até a esquina, dali sai tudo: body, pomada, algodão, escudo de titânio, macacão, escova, máscara de gás, fralda de pano, fralda descartável, bolsa de água quente, capacete, chupeta, mordedor, brinquedo etc. Quando estiver administrando suas finanças, você também deve se preparar antecipadamente para lidar com diversas ameaças, como risco de liquidez, risco de mercado, risco de crédito e risco operacional (pelo menos).
As coisas podem dar errado
Não importa quão cuidadoso você seja com seu bebê, nem tudo sai sempre como planejado. Você sai com duas trocas de roupa para um passeio de poucas horas e ele suja todas rapidamente. Você agasalha bem o seu filho, mas ele se resfria. Fecha todas as janelas, mas um pernilongo entra e deixa ele cheio de picadas. A vida dos investimentos financeiros também tem altos e baixos. Mesmo gestores de recursos tarimbados enfrentam maus momentos (o fundo Verde está no vermelho este ano), então não se desespere se você, mesmo sendo bastante cuidadoso, perder algum dinheiro ocasionalmente.
Tenha paciência
Por melhor pai ou mãe que você seja, seu bebê não vai sair andando com três meses, recitar poemas com um ano nem dirigir um carro com três anos. Cada coisa tem seu tempo, e não convém ter muita pressa. No mundo das finanças, você pode até ficar rico "antes da hora" se herdar dinheiro ou tiver sucesso rápido na vida profissional (leia-se trabalhar no mercado financeiro e ganhar bônus polpudos sem nem entender muito bem porquê). Mas se depender só dos seus investimentos, o mais provável é que só consiga juntar de milhão para cima depois de muito tempo.
Genética x repetição
Tem bebês que mamam bem desde o nascimento e que dormem a noite inteira poucas semanas depois de nascer. Outros precisam de mais treinamento para aprender, o que exigirá empenho e dedicação dos pais. Se você não é desses que parece que veio ao mundo com dom para ganhar dinheiro, se una sem ressentimentos ao grupo daqueles que têm que ralar para conseguir. Estudo, prática e perseverança devem te levar ao resultado desejado.
Foco no longo prazo
Psicólogos nos assustam, e consultores financeiros idem, ao dizer que pequenas decisões que tomamos hoje podem ter consequências catastróficas sobre nosso futuro daqui a 20 ou 30 anos. Infelizmente, eles estao certos. Assim como uma diferença de 0,5 ponto percentual na taxa de administração anual de um fundo de previdência pode te deixar rico ou pobre na aposentadoria, agir errado com seu bebê nos primeiros meses de vida pode ser a senha para criar uma crianca que lhe dará problemas quando crescer. Esteja atento aos detalhes.
Fernando Torres é repórter de S.A.
E-mail: fernando.torres@valor.com.br