Risco de ficar sem dinheiro assusta mais que a morte
19/11/2014 – Valor Econômico
Por Chris Taylor | Da Reuters, de Nova York
Diante da possibilidade de durar mais que seu dinheiro, a maioria das pessoas pode se revirar na cama à noite ou ficar obcecada em cortar o orçamento. Mas outras têm uma reação mais extrema: desejam uma morte antecipada.
"Posso enfiar um saco na cabeça e apertar quando o dinheiro acabar." Essa frase foi a que o marido de Jeannine Hines disse quando ela lhe perguntou o que ele pretendia fazer se o dinheiro do casal acabasse antes de eles morrerem. "Ele prefere morrer a ficar sem um centavo", diz ela, uma professora de piano de 58 anos que vive em Maryville, no Tennessee.
Uma nova pesquisa da Wells Fargo mostra que 22% das pessoas afirmam que prefeririam morrer antes de não ter dinheiro suficiente para viver confortavelmente na aposentadoria.
Outros estudos confirmam esses números. Um deles, realizado pela companhia de serviços financeiros Allianz com pessoas na faixa dos 40 anos, constatou que 77% temiam durar mais que seu dinheiro na aposentadoria, mais do que a própria morte.
Dos participantes dessa pesquisa, os casados e com dependentes mostraram-se ainda mais amedrontados, com 82% alegando que ficar sem dinheiro é uma possibilidade mais assustadora do que a morte. "São estatísticas muito sérias, diz Joe Ready, diretor da Wells Fargo Institutional Retirement de Charlotte, Carolina do Norte. "Elas demonstram o nervosismo extremo que as pessoas têm com o dinheiro."
Planejadores financeiros como Rose Swanger, da Advice Finance de Knoxville, Tennessee, ouvem sobre esse medo extremo o tempo todo. Mas ela diz não acreditar que as pessoas queiram de fato morrer; elas apenas não sabem o que fariam se seu dinheiro acabasse antes do previsto. "Então, elas ficam apavoradas, paralisadas, e começam a pensar irracionalmente", explica.
Em um aspecto, o desespero coletivo é simplesmente um reconhecimento do quanto estamos poupando - ou do quão pouco estamos poupando.
A pesquisa da Wells Fargo também descobriu que 41% das pessoas na casa dos 50 anos não guarda nada para a aposentadoria, e 48% admitem que não terão dinheiro suficiente após se retirar do mercado de trabalho.
Especialistas sugerem que é preciso respirar fundo e se recusar a se deixar tomar pelo medo em relação ao dinheiro. A Previdência Social estará esperando quando você estiver velho, e amigos e a família também ajudarão você em períodos difíceis. Além disso, você poderá usar várias estratégias para evitar um futuro sem dinheiro.
Em vez de se conformar com a situação, estabeleça um objetivo factível. "Economize pequenas quantias. Depois, um pouco mais. Assim que a soma começar a aumentar, você verá que seus níveis de estresse e preocupação começarão a diminuir", diz Michael Norton, um professor da Harvard Business School e coautor do livro "Happy Money: The Science of Smarter Spending".
Há outras maneiras de assumir o controle de sua situação. "Você pode adiar a aposentadoria por alguns anos, pode encontrar meios para complementar sua renda, e pode ter de reduzir seu padrão de vida já e na aposentadoria", diz Ready da Wells Fargo. "Tudo isso são maneiras de se concentrar na realidade e onde se está, em vez de desistir e sucumbir ao desespero."
Mas essa vontade de morrer que surge nas pesquisas realmente diz respeito a nós? Analisando-se um pouco mais fundo as ansiedades das pessoas em relação a durar mais que seu dinheiro e com frequência você descobre que na verdade tudo diz respeito aos filhos.
Os pais em geral sentem-se fracassados se não conseguem deixar uma herança para os filhos, e certamente não querem se tornar um fardo financeiro para os filhos quando eles já forem adultos. "Para muita gente, este é um destino pior que a morte", diz Norton.
Portanto, em vez de ficar paralisado de preocupação, livre-se de todo o estresse. Você não precisa deixar um espólio enorme; os filhos ficarão bem. E se você precisar depender de sua família quando ficar velho? Ora, os seres humanos vêm ajudando uns aos outros a milhares de anos.
Os desafios representados pela aposentadoria podem ser formidáveis, mas certamente não há motivos para esperar que a morte chegue mais cedo. (Tradução de Mario Zamarian).