Educação financeira sob demanda

Pessoas com maior conhecimento sobre finanças pessoais conseguem acumular mais patrimônio ao longo da vida porque planejam a aposentadoria de forma mais eficiente

Em 5 de outubro de 2011 esta coluna abordou os resultados de um estudo a respeito da riqueza das famílias. A conclusão era que pessoas com maior conhecimento sobre finanças pessoais conseguem acumular mais patrimônio ao longo da vida porque planejam a aposentadoria de forma mais eficiente e desenvolvem melhor a capacidade para escolher investimentos mais rentáveis.

Se a educação financeira tem implicação direta sobre a melhor situação econômica dos indivíduos, parece ser um passo natural o estímulo para criar e desenvolver programas a fim de massificar o conhecimento dos temas mais básicos para um bom planejamento financeiro pessoal. Especialmente no Brasil, onde o ambiente econômico é sempre volátil e o acesso a informações de qualidade, difícil.

Na semana passada, no entanto, reportagem de Luciana Seabra, do Valor, detalhou as descobertas de três Ph.D.s que desafiaram o senso comum e resolveram medir os resultados dos programas de educação financeira no mundo. Os números foram surpreendentes.

Segundo a avaliação dos especialistas, as análises estatísticas revelam que o impacto das diversas ações para disseminar o conhecimento sobre finanças pessoais entre a população é pequeno. Na média, as intervenções para promover a alfabetização financeira explicam apenas 0,1% da mudança de comportamento daqueles que participaram de algum dos programas.

A conclusão é que iniciativas genéricas não funcionam para os indivíduos que, na maioria das vezes, buscam soluções pontuais para resolver problemas específicos o que faz sentido, principalmente considerando a crescente complexidade e variedade dos produtos financeiros à disposição.

Um exemplo são os fundos de previdência. No passado, o complemento da aposentadoria do funcionário era garantido pela empresa em que trabalhava, por meio de planos de pensão na forma de benefício definido. Esses esquemas possuem mecanismo simples. Ao atingir determinada idade e após certo tempo de contribuição para o fundo de pensão administrado pela companhia, o valor da aposentadoria do empregado era proporcional aos últimos salários recebidos.

A principal vantagem é o conforto de poder prever um certo padrão após a vida profissional ativa. Todavia, devido a uma série de questões, esses arranjos foram mudando. E hoje, na prática, as empresas substituíram os antigos planos de benefício definido pelos de contribuição definida.

Na nova modalidade, em vez de vincular o valor da aposentadoria aos últimos salários, o montante é resultado da combinação entre as contribuições feitas ao longo dos anos e a rentabilidade das aplicações. Assim, uma série de produtos financeiros foi criada, tais como PGBLs e VGBLs, duas modalidades vinculadas a um plano de previdência.

Um erro comum dos participantes de PGBLs e VGBLs é achar que a contribuição mensal, calculada à época da contratação do plano, será suficiente para garantir a retirada esperada na aposentadoria. Invariavelmente, cálculos feitos na contratação do plano consideram premissas que podem perder a validade.

É preciso reavaliar continuamente a evolução da rentabilidade da aplicação, acompanhar os custos do plano e pesquisar opções melhores. Isso requer um esforço constante. Certamente, desenvolver a noção de que a necessidade de poupar é fundamental para um futuro mais confortável é importante do ponto de vista do planejamento financeiro.

Mas, avaliar continuamente a adequação dos produtos financeiros demanda conhecimentos muito específicos. Além disso, segundo os estudos, o investidor está sujeito a dois tipos de viés: cognitivo e emocional.

Os programas de educação do investidor podem funcionar para resolver questões associadas ao viés cognitivo, às falhas no processamento da informação. Já o viés emocional deve ser abordado de forma diferente. Um exemplo é a resistência para investir em ações. Em muitos casos o temor é de perder todo o capital. Esse é um problema de desconhecimento de como funciona o mercado financeiro e dos benefícios da diversificação.

Se o potencial investidor em bolsa tiver acesso aos números de rentabilidade do Ibovespa, poderá avaliar, em perspectiva, o pior momento do indicador e o tempo que foi necessário para recuperar as perdas em uma carteira balanceada, com 20% em bolsa e 80% em renda fixa, por exemplo. Mas, se a resistência de investir em bolsa estiver associada ao sofrimento de uma pessoa próxima que perdeu uma fortuna em ações com apostas alavancadas, o aspecto emocional tem impacto maior.

De forma geral, a dor da perda supera o prazer do ganho, o que induz ao conservadorismo. Mas em algumas situações, quando o prejuízo é iminente, a tentação natural é dobrar as apostas. O gráfico abaixo mostra como funcionam as decisões quando o assunto envolve perdas e ganhos.

(ver em http://mdagosto.com/2015/06/16/educao-financeira-sob-demanda)

Os estudos mostram que, apesar de relevante, o potencial de generalização dos temas relacionados a finanças pessoais é pequeno. Do ponto de vista pragmático, o caminho do investidor parece ser menos o de palestras genéricas e mais o de consultas individuais para abordar pontos específicos.