O ensino da Matemática e da Educação Financeira na Infância
PARTE I
Em um curso que fiz no último final de semana, ministrado pela professora da Universidade Federal de Minas Gerais Márcia Hauss, sobre a Matemática na Educação Infantil, tivemos a rica oportunidade de contemplar a importância desta disciplina em nossas vidas. Sim, ela está presente em tudo, e sim, deve se iniciar na infância.
Ela explicou-nos que, no ensino da Matemática, ser numeralizado não é necessariamente saber fazer uso do cálculo. Ser numeralizado é aprender a pensar sobre a situação problema e discutir as relações numéricas e espaciais, usar as convenções (ou seja, sistemas de numeração, medida, volume e área, ferramentas como calculadoras e transferidores) da nossa própria cultura. Para que as nossas crianças aprendam este conceito é necessário aproximá-las das características da matemática. As crianças começam a compreender as relações que existem nos sistemas de numerações, nas simbologias e alguns conceitos começam ser formados. Há que despertar o interesse de um lado, respeitando as condições de aprendizagem daquela faixa etária, e, de outro, delinear as noções da matemática que serão trabalhadas com aquela criança. O contato e o uso desta área de conhecimento não podem nem devem ser esporádicos, espontaneístas ou casuais. Nesta perspectiva, a escola e a família devem aproveitar cada oportunidade e realizar um planejamento para tudo que vier a ser realizado com aquela criança. As noções matemáticas vão sendo construídas de acordo com as experiências que lhes são proporcionadas através de suas interações com o meio, troca com outras crianças, conhecimentos compartilhados e/ou necessidades vivenciadas.
O conhecimento deve ser vivenciado, a criança deve experimentar o que está aprendendo e, por exemplo, recitar os números não que dizer necessariamente que aquela criança sabe contar. Sim, a contagem mecânica é necessária, mas não pode ser a única forma de fazer uso dos números, é importante construir a ideia de número.
Aliado a este curso que realizei – e abordarei outros aspectos no próximo post –, fica a pergunta… Aquele que não gosta em nada da disciplina Matemática pode ter uma vida financeira equilibrada? A Educação Financeira e a Matemática podem ser aliadas? Ou devem ser aliadas?
Sabemos que, no Brasil, a Matemática Moderna foi transmitida principalmente pelos livros didáticos e exerceu uma forte influência no ensino. Em 1980, o National Council of Teachers of Mathematics — NCTM — dos Estados Unidos, introduziu recomendações para o ensino de Matemática no documento “Agenda para Ação”. Este documento pontuava a resolução de problemas como foco no ensino da Matemática nos anos 80. A compreensão da importância de aspectos sociais, antropológicos e linguísticos, na aprendizagem da Matemática, direcionou a novos rumos às discussões curriculares que ocorriam. Esses pensamentos se destacaram e influenciaram as reformas que ocorreram mundialmente, a partir de então, nessa área de ensino (PCN, 1998), vemos alguns deles a seguir:
• importância do desempenho de um papel ativo do aluno na construção do seu conhecimento;
• ênfase na resolução de problemas, na exploração da Matemática a partir dos problemas vividos no cotidiano e encontrados nas várias disciplinas;
• importância de se trabalhar com um amplo espectro de conteúdos, incluindo-se, já no ensino fundamental, elementos de estatística, probabilidade e combinatória, para atender à demanda social que indica a necessidade de abordar esses assuntos;
• necessidade de levar os alunos a compreenderem a importância do uso da tecnologia e a acompanharem sua permanente renovação. (PCNs, 1998, p.21).
No Brasil essa temática assumiu, então, absoluta centralidade e algumas ideias principais estão presentes nas propostas curriculares de Secretarias de Estado e Secretarias Municipais de Educação, contendo algumas experiências bem-sucedidas que demonstram sua eficácia. Contudo, vale ressaltar que atualmente ainda persiste o trabalho precoce com alguns conceitos muito teóricos, que terão pouca utilidade prática na vida estudantil e pouca ligação com a Matemática em sua real aplicação.
O desafio encontrado pelos docentes de hoje (pais e professores) está em despertar nas crianças e jovens o sentido real para o uso desta disciplina que é imprescindível na vida atual e uma ferramenta muito importante para a construção da vida financeira saudável.
Em nosso próximo post, abordaremos algumas ações práticas que auxiliam na construção deste conhecimento em congruência com a Educação Financeira, uma vez que o conhecimento é construído em espiral e um não pode existir sem o outro.
PARTE II
Nosso post de hoje dará continuidade ao de sexta feira passada, sobre o curso ministrado pela professora da Universidade Federal de Minas Gerais, Márcia Hauss, sobre a Matemática na Educação Infantil.
Uma das perguntas que deixamos para reflexão foi:
-A Educação Financeira e a Matemática podem ser aliadas? Ou devem ser aliadas?
De forma bem objetiva, A MATEMÁTICA É, SIM, uma grande aliada na construção de uma vida financeira saudável. A pessoa não precisa ser uma especialista no assunto, mas o contato com esta área de conhecimento de forma útil e prazerosa é MUITO importante, e quanto antes, ou seja, quanto mais jovem, melhor.
Como abordamos, o desafio encontrado pelos docentes de hoje (pais e professores) está em despertar nas crianças e jovens o sentido real para o uso desta disciplina que é imprescindível na vida atual e uma ferramenta muito importante para a construção da vida financeira saudável.
É preciso descontruir o conceito da matemática e compreender que esta é uma área de conhecimento humano que foi surgindo a partir do problema e da necessidade de resolvê-lo. O início de tudo ocorreu pela necessidade de solucionar uma situação. Outro aspecto é que é um conhecimento construído em espiral, não adianta apresentá-lo sem conectá-lo com a vida do educando. O educador deve retomar e rever o conceito ensinado e depois ampliar, retomar novamente e ampliar, retomar o mesmo conceito novamente e ampliar, fazendo um caminho em espiral.
Somos fruto de uma educação compartimentada, como se fosse uma caixinha para cada área de conhecimento, mas na verdade está tudo integrado, o conhecimento tem que estar interligado, pois a vida está toda interligada e este deve ser o cuidado ao ensinar:
- Considerar o conhecimento prévio do educando;
- Interligar os conhecimentos;
- Entender qual é o contexto social de cada criança;
- Relacionar com a vida deles.
Diante destes aspectos, relacionamos para vocês algumas ações práticas que auxiliam na construção deste conhecimento em congruência com a Educação Financeira em nosso dia-a-dia:
- Contagem, localização, noção de tempo (ontem, hoje e amanhã), devem estar presentes diariamente.
- Toda situação deve ser uma oportunidade para PROBLEMATIZAR a situação a partir do que está acontecendo -> “E se” -> É fundamental e flexibiliza a forma de pensar.
- Pedir para cada um criar os próprios desafios, com as coisas que vive em seu dia-a-dia, dando para a criança alguns dados que possam ser utilizados nestes desafios.
- O que foi aprendido na escola deve ter continuidade em casa, esmiuçar todas as oportunidades, construir o conhecimento junto com eles. Tudo deve ser uma continuidade do vivido em sala.
- Criar em casa um ambiente estimulante e desafiador. Exemplo: uma faixa numérica que circunda o quarto com números incompletos para as próprias crianças completarem.
- Perceber o momento que aquela criança está vivendo, observar a sua faixa etária e fazer intervenções correspondentes, ensinar com significado.
- Jogos são uma grande possibilidade de problematizar; neles se criam estratégias e se aprende por aproximações sucessivas.
Trazendo a Matemática de forma natural para o dia-a-dia dos pequenos, a entrada da Educação Financeira contempla o que tratamos aqui: retomar um conceito e ampliar, retomar novamente este conceito e ampliar, ou seja, a construção deste conhecimento em espiral.
Aguardamos você na próxima semana para concluirmos juntos este tema tão atual e importante, especialmente no momento de vida que todos nós atravessamos em nosso país nesse contexto econômico difícil pelo qual nosso país está passando. Até lá!