Em tempos de recessão, brasileiros investem em educação financeira

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Tanto para adultos quanto para crianças, serviço cresce no país

Em momentos difíceis como o atual, a procura por conhecimento de como administrar o dinheiro é cada vez maior. Por isso, o ensino de educação financeira está em alta no país. E ele começa cedo: no Rio de Janeiro, já são 40 escolas que incluem a matéria em seus programas neste ano, contra nove em 2015. Reinaldo Domingos, presidente da Associação Brasileira de Educadores Financeiros e criador do programa DSOP, usado nas escolas, afirma que essa mudança é importantíssima para o futuro das finanças do Brasil, e que a crise atual é fruto da falta de conhecimento financeiro da população:

— Temos um país totalmente analfabeto economicamente. São 50 milhões de brasileiros inadimplentes, a maioria do país endividada. Mas, hoje, temos condições de levar essa educação para as crianças na escola. E ensinar uma criança a se educar economicamente é muito mais fácil do que um adulto, porque, quanto mais velha a pessoa está, mais enraizados estão seus hábitos.

Para tornar o conteúdo mais acessível às crianças, Domingos afirma que o programa aborda mais o lado humano do que o matemático, e ensina que, guardando uma parte do que ganha, elas ficam mais próximas de realizarem seus sonhos.

— Ela sempre vai guardar metade do dinheiro dela para realizar sonhos. Com isso, percebe que é muito mais importante guardar do que gastar à toa. Porque, se não tiver isso em mente, não vai economizar. Dinheiro não é fim para elas, é meio. Quando a criança ganha um cofrinho, geralmente tira o dinheiro depois de dois dias, porque não percebe o motivo para guardar — disse ele.

O efeito nas crianças é perceptível. Karla Chambarelli diz que o programa mudou a forma como o seu filho, Enzo, lida com o dinheiro. Ele teve aulas de educação financeira no ano passado, quando tinha 9 anos.

— Hoje, meu filho pergunta: “Preciso gastar? Preciso comprar? Isso me faz falta?” Em várias oportunidades de consumir, ele nem leva o dinheiro dele. E esse comportamento acaba contagiando todos que moram na casa. Agora, nós mesmos perguntamos: “Será que eu preciso de mais um sapato, mais uma bolsa?” — reflete Karla.

DICAS PARA ADULTOS

Mas não são só as crianças que têm aula. Atualmente, os mais velhos também estão procurando aprender. Ricardo Figueiredo, consultor do Funcesp (organização criada pelos funcionários de empresas de energia de São Paulo para cuidar da administração e da elaboração dos seus planos de previdência e saúde) criou um guia de finanças pessoais para tempos de crise.

— Eu tento ajudar as pessoas a identificarem em seus orçamentos gastos desnecessários que elas tenham acrescentado nos últimos anos. Nós vimos que as pessoas tinham muitas despesas no orçamento que elas viam como fundamentais, mas que, na verdade, são supérfluas — adverte Figueiredo.

Um exemplo desses gastos que dão pouco retorno é o pacote de televisão a cabo. Segundo Figueiredo, dificilmente o consumidor assiste aos mais de cem canais do pacote mais completo. Portanto, ele recomenda que o consumidor adquira um que esteja mais de acordo com suas necessidades.

Quando o consumo estiver equilibrado, e a pessoa não estiver endividada, diz ele, começa o próximo passo: o do investimento.

— Quem está com as finanças saudáveis entra para outro time, um mais divertido: o dos poupadores. Esses têm acesso a investimentos de mercado. E aí, precisam se informar: ler, ver os produtos disponíveis e ter consciência de que todos os investimentos têm risco. Para muitos, é melhor também conversar com especialistas, como assessores financeiros e gerentes de banco. E, finalmente, é preciso saber que tipo de investidor você é, se quer correr mais ou menos riscos, e adequar seus investimentos a isso — completa.